É uma das zonas mais altas do concelho de Oeiras, com uma vista incrível sobre o rio Tejo. O Alto de Santa Catarina, em Linda-a-Velha, é conhecido por quem mora nas urbanizações adjacentes, mas pouco frequentado pela generalidade dos oeirenses. Ora bem, essa é uma realidade que está a mudar e há bons motivos para isso. O espaço, onde se encontra o reservatório de água, foi transformado num miradouro aberto à população e ganhou até um mural de arte urbana dedicado à biodiversidade da região.
Tudo começou em 2021, quando a Câmara Municipal de Oeiras revelou que o SIMAS — Serviços Intermunicipalizados de Água e Saneamento de Oeiras e Amadora ia construir um novo reservatório no Alto de Santa Catarina, já que tinham sido detetadas uma série de anomalias estruturais no antigo equipamento que se encontrava ali em funcionamento desde 1999, priorizando a substituição do mesmo, em detrimento da sua reparação. A construção da nova instalação, no mesmo local, ficou concluída no início do verão deste ano, representando um investimento na ordem dos 2,5 milhões de euros.
De acordo com a autarquia, a capacidade de armazenamento de água potável do novo reservatório é bastante superior, passando para 7.500 metros cúbicos, o que representa um acréscimo de 4 mil metros cúbicos face ao anterior (fazendo com que a reserva estratégica do município aumente, sendo agora de 68 mil metros cúbicos), o que permitiu dobrar a população abrangida, que passa a ser de 16.510 habitantes, através de cerca de 30 quilómetros de rede de distribuição de água.
Um acréscimo que, segundo o executivo oeirense, vem possibilitar o abastecimento de água a mais zonas do concelho, como Cruz Quebrada, Dafundo, Junça, zonas alta e baixa de Algés, Av. da Índia e Jamor. Este novo reservatório vem, assim, juntar-se aos outros seis já existentes no concelho: Figueirinha, Torneiro, Porto Salvo, Barcarena, Carnaxide e Alto de Leceia.
À semelhança destes, também localizados em zonas elevadas, o novo reservatório permite uma observação panorâmica da paisagem. Dessa característica, nasceu a ideia “de instalar, na zona envolvente, um miradouro, possibilitando a todos a oportunidade de usufruir de uma paisagem única”, refere o município. A inauguração oficial do novo reservatório do Alto de Santa Catarina e do novo miradouro aconteceu no passado dia 22 de setembro, com a presença do presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais e do Conselho de Administração do SIMAS.
O miradouro panorâmico e o novo mural de arte urbana
Nessa data, além do reservatório, foi inaugurado o novo Miradouro do Alto de Santa Catarina, um valioso espaço para a comunidade, que inclui também um pequeno jardim, com bancos para que a população possa admirar, com maior conforto, a vista panorâmica para a zona ribeirinha de Oeiras, o Farol do Bugio, o Geiser Marítimo de Paço de Arcos, o Passeio Marítimo de Oeiras e o Parque Urbano do Jamor. No mesmo local, foram também instalados baloiços, por isso, prepare já a máquina fotográfica, porque vai querer registar a ida ao local.
“Além do fornecimento de água de alta qualidade às comunidades, estamos a criar um espaço especial que conecta as pessoas com o seu ambiente. É uma demonstração da visão dos SIMAS para um futuro mais sustentável, onde o bem-estar das gerações vindouras está no centro de nossas ações”, refere a empresa.
Há, ainda, outra novidade que deixará, certamente, satisfeitos todos os fãs de arte urbana. Na zona do jardim, a cor branca das paredes exteriores do reservatório deram lugar a um mural pintado em homenagem à biodiversidade local. O responsável foi o artista Tiago Hacke, de 38 anos, especializado em pintura sobre a biodiversidade portuguesa, acrescentado uma dimensão artística à infraestrutura.
Tiago, a morar atualmente no Dafundo, conta à NiO que descobriu neste espaço “um sítio espetacular” para viver também o seu hobby. “Sempre gostei de vida selvagem. Desde pequeno que adoro animais, apanhava gafanhotos, lagartixas e outros para levar para casa. Hoje em dia, sou um observador de aves e animais selvagens, há algumas espécies muito interessantes nesta região como, por exemplo, os pica-paus no Jamor”.
Desde os 14 anos que o grafitti passou a fazer parte da sua rotina, na época desenhava apenas letras. “Comecei em 1998. Ia pintar murais com amigos para sítios abandonados. Com o passar do tempo fui melhorando e deixei de fazer letras para começar e fazer desenhos”, revela. A paixão por esta área levou-o a estudar Belas Artes em Manchester e Paris. Viveu vários anos fora de Portugal e foi apenas em 2015, quando regressou, que se especializou na carreira de muralista.
O gosto pelos animais levou a que se tornassem parte essencial também no seu trabalho. Em 2018, surgiu um convite, e descobriu que pintar murais sobre a biodiversidade era o que lhe dava mais prazer. “Comecei a estudar e conhecer melhor os animais, a sua fisionomia, os pormenores”, refere o artista que, há dois anos, decidiu começar a estudar ilustração científica. Assim, quando surgiu o convite por parte da vereadora da Câmara Municipal de Oeiras, Joana Baptista, para realizar este mural, Tiago aceitou com agrado.
“É uma forma de ligar o meu trabalho ao meu hobby”, afirma. O artista ficou fã do espaço criado na zona envolvente do reservatório. “Há um mundo por descobrir. Enquanto estava a pintar o mural, tinha os meus binóculos sempre ao lado para ir vendo os animais que ali passavam. É um bom observatório”, refere.
Quanto aos animais que fazem parte desta tela a céu aberto, foi o próprio Tiago que os escolheu, num processo criativo que, garante, foi de liberdade total. “Estive a pesquisar sobre a biodiversidade local, os animais e plantas que existem nesta floresta, que é maioritariamente pinhal. A única indicação era de que também deveria ter alguns elementos de água, então pintei pássaros a lavarem-se. Achei esteticamente interessante. Portanto, estão pintadas aves, coelhos, mamíferos e anfíbios para haver variedade e espécies icónicas como a águia de asa redonda, que há no Jamor. Acrescentei também um ouriço-cacheiro, uma caracoleta rosca e um sapo”, conta Tiago Hacke.
Foram precisos apenas 18 dias úteis para concluir o trabalho. “Foi o meu recorde absoluto. Mesmo assim, vinha pintar logo ao nascer do dia, mas terminava pelas 14 horas, porque quando começava a bater o sol ficava impossível estar ali”, sublinha. Ao todo, o mural tem cerca de 30 metros de comprimento e seis metros de altura.
Carregue na galeria para ver imagens do novo reservatório de água do Alto de Santa Catarina, assim como do espaço exterior onde se encontram o miradouro e o mural de arte urbana.
