Neste momento, são mais de 1.020, mas enquanto escrevemos este texto é provável que o número já tenha aumentado. A coleção de presépios Rei Pereira tem peças de 80 países, de todos os continentes, e com todo o tipo de formas, tamanhos e adaptações. Desde o dia 1 de dezembro que está em exposição no Mercado Municipal de Oeiras. Na impossibilidade de exibi-los a todos, foram escolhidos 100 presépios sob o tema “Portugal e Lusofonia”.
Por detrás desta coleção está alguém que os oeirenses conhecem bem. Pedro Mendanha Dias, de 36 anos, é o mestre gelateiro da Don Pavilli, a gelataria mais famosa do centro histórico de Oeiras. Nas pausas do trabalho criativo de desenvolver e produzir regularmente novos sabores, como já habituou os clientes, Pedro viaja pelo País e para o estrangeiro, à procura de artesãos e mercados onde possa encontrar novas peças.
Esqueça aqueles presépios que conhece e que tem em casa desde sempre. A criatividade não tem limites e vai descobrir, nesta coleção, exemplares que nunca imaginou serem possíveis. Feitos com diferentes materiais, desde cerâmica, barro, madeira, papel, bordado, cristal, folha de bananeira, ferro, entre muitos outros, também as figuras fogem, muitas vezes, das bíblicas tradicionais. Já imaginou um presépio com personagens de Star Wars ou com elementos do Grinch? Com diabos minhotos ou figuras africanas? Há de tudo.
Não podemos deixar de apontar aquele que, para nós, é o mais criativo, até porque diz respeito a Oeiras. O presépio “Oeiras Valley” foi criado em 2022 pelo ceramista português Luís Santos, com “o objetivo de homenagear o território que, desde o primeiro momento, tão bem acolheu o colecionador”, revela o responsável pela coleção. Pedro Mendanha Dias conta que foram previamente definidos os elementos chave do concelho.
Assim, os três Reis Magos são o Eusébio (em representação da Cidade do Futebol, situada em Caxias), o presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais (com uma garrafa do Vinho de Carcavelos), e o Marquês de Pombal.
Para perceber como tudo começou, temos que voltar uma geração atrás. Foi a tia e madrinha de Pedro, Aida Rei Pereira, que iniciou esta paixão que se tornaria uma obsessão de família. A sua irmã, Maria Graciete Pereira, também se entusiasmou pelo tema e não demorou até que o filho, Pedro, lhes seguisse os passos enquanto colecionador de presépios.
“Sempre gostei muito de presépios e, desde que esta loucura entrou na nossa vida, que não me lembro de oferecer mais nada à minha madrinha a não ser presépios. A coleção começou por ser dela, mas acabou por se tornar uma coisa de família. Houve um Natal em que ela decidiu montar todos os que tinha e pediu-me ajuda para fazer um inventário, tirar fotografias e enumerá-los. Fiz uma lista no Excel com descrição de cada um, a origem, etc. Hoje todos têm uma ficha própria”, conta Pedro à NiO.

Acabou por, depois, fazer o mesmo com a coleção da mãe. “Juntas elas deviam ter uns 250 presépios, por aí”, revela Pedro, assumindo que desde 2018 a coleção começou a aumentar de forma exponencial. Hoje, são mais de mil.
O colecionador revela-nos também que já perdeu a conta ao dinheiro gasto nestas peças, “seguramente, vários milhares de euros”. E garante que não é uma coleção económica. “Mas nem todos são comprados. Há muitos que me são oferecidos”.
Quanto aos favoritos, Pedro admite que gosta especialmente das peças maiores, mais trabalhadas e com maior detalhe. “Mas sou fã de todas, se estão na coleção, é porque gosto delas”, sublinha Pedro. Destaca uma que comprou, este ano, na Feira Internacional de Artesanato de Moçambique, em madeira, com 80 centímetros de altura (pode vê-la na galeria, em baixo).
“Vou descobrindo novas peças através da Internet e faço muitas viagens, principalmente em Portugal, para ir a feiras de artesanato. É uma forma de descobrir novos artesãos, com quem acabo por manter o contacto. Nos últimos tempos estive, por exemplo, em Barcelos, Estremoz e Vila Franca de Xira”
Se ficou curioso sobre a coleção Rei Pereira (nome dado em homenagem aos apelidos dos avós), visite-a no primeiro piso do Mercado Municipal de Oeiras, até ao Dia de Reis, ou seja, 6 de janeiro de 2024 (de segunda a sábado entre as 7h30 e as 14 horas). Estão presentes 100 presépios de Portugal e países lusófonos, como Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e ainda Goa e Timor-Leste.
“O ano passado, no mesmo local, a exposição era mais genérica. Até vieram colecionadores de Espanha para conhecê-la. Quem gosta, faz quilómetros atrás deste tipo de mostra, atrai muita gente. Este ano, decidimos afunilar a escolha para o tema da lusofonia, com presépios que, no caso de Portugal, vão desde o Alentejo ao Minho, passando pelos Açores e pela Madeira”, revela o colecionador, para quem os presépios têm importância pelo significado: “Mais que as peças, a coleção transmite a ideia de família”.
Carregue na galeria para ver 50 presépios que fazem parte da coleção Rei Pereira, de Portugal e do mundo — e imagens das peças expostas no Mercado Municipal de Oeiras.