Com ruínas esculpidas nas montanhas, Petra, na Jordânia, é um dos sítios arqueológicos e geológicos mais impressionantes do mundo — e continua a esconder uma série de segredos. Um deles foi descoberto recentemente e poderia ter servido de cenário ao filme de Steven Spielberg, “Indiana Jones e a Grande Cruzada”, de 1983.
Enterrado sob o icónico Al Khazneh — também conhecido como “O Tesouro” —, foi encontrado um túmulo secreto com pelo menos 12 esqueletos humanos e artefactos que se acredita terem mais de dois mil anos.
Uma equipa de arqueólogos liderada por Pearce Paul Creasman, diretor-executivo do Centro de Investigação Americano, desenterrou o antigo túmulo durante uma expedição para descobrir mais sobre o emblemático monumento, considerado uma das sete maravilhas do mundo e classificado Património da Humanidade pela UNESCO.
A jornada por este mundo subterrâneo surgiu após anos de especulação de que os dois túmulos encontrados do lado esquerdo do monumento em 2003 não eram as únicas câmaras subterrâneas secretas. A teoria ainda não tinha sido confirmada, — até agora.
Com uma técnica remota que utiliza impulsos de radar para detetar objetos escondidos no subsolo, a equipa começou a investigar, no início deste ano, se as características físicas do solo situado à esquerda, onde foram encontrados os túmulos originais, correspondiam às da direita. A investigação revelou que, de facto, existiam fortes semelhanças entre os dois lados. Era tudo o que precisavam de saber para receber permissão do governo para escavar sob o maior edifício da cidade, construído no século I a.C.
Nessa altura, decidiram contactar Josh Gates, apresentador do “Rumo ao Desconhecido” do Discovery Channel. “Acho que temos aqui alguma coisa”, confessou Creasman ao explorador numa conversa por telemóvel. Dito e feito. Chegaram ao túmulo secreto em agosto, mas a grande surpresa foi o que encontraram no seu interior. Esperavam encontrá-lo vazio, como acontece na maioria das descobertas em Petra, mas não foi o que aconteceu. A câmara estava repleta de esqueletos completos, uma visão rara da vida dos nabateus, antigos nómadas árabes que construíram, há mais de dois mil anos, a cidade de que hoje só conhecemos ruínas.
“Esta é uma descoberta extremamente rara. Nos dois séculos em que Petra tem sido investigada por arqueólogos, não foi encontrada nada semelhante antes. Mesmo em frente a um dos edifícios mais famosos do mundo ainda há grandes descobertas a fazer”, confirma Gates, citado pela CNN.
Acredita-se que é a maior coleção de restos mortais encontrados num só lugar e, segundo o arqueólogo, “aproxima-nos ainda mais do que nunca de respostas” sobre quando e o porquê do Al Khazneh ter sido construído — motivos que permanecem um mistério.
A estrutura de pedra esculpida num penhasco destaca-se pela impressionante fachada com 40 metros de altura, adornada com colunas e detalhes arquitetónicos. Uma das teorias é que foi originalmente construída como um mausóleu e cripta no início do primeiro século, durante o reinado de Arestas IV, como forma de demonstrar a importância e o poder do rei na época. A tumba foi esculpida com precisão na rocha, criando a imponente fachada que continua a impressionar quem a visita.
A descoberta, apresentada na passada quarta-feira, 9 de outubro, na estreia da nova temporada de “Rumo ao Desconhecido”, confirma que o local foi realmente utilizado como um mausóleu e não para guardar um “tesouro”, como muitos acreditam.
Outro aspeto que não passou despercebido foi um dos artefactos encontrados, um vaso de cerâmico que tem uma estranha semelhança com um adereço usado em “Indiana Jones e a Grande Cruzada”. Foi encontrado um esqueleto a segurar um cálice, conhecido no cinema como o Santo Graal. No filme, o objeto tinha o poder de conceder a imortalidade.
“Quando avistámos o que parecia ser um cálice, ficámos simplesmente paralisados. Parecia quase idêntico ao Santo Graal do filme, situado no edifício diretamente acima do túmulo. Foi realmente um momento incrível em que a história imita a arte”, revela Gates.
Apesar dos artefactos estarem bem preservados, o mesmo não acontece com os restos mortais. Embora intactos, encontram-se mais “delicados do que o esperado”, possivelmente devido à humidade e inundações sazonais em Petra. Alguns dos esqueletos, inclusive, foram encontrados com bolor.
As práticas funerárias dos nabateus continuam também envoltas em mistério. Segundo Creasman, na literatura, a sociedade nabateia é frequentemente descrita como sendo mais igualitária, tendo existido maior proximidade do rei às classes mais baixas do que os líderes de outras civilizações antigas. Até agora, dos túmulos encontrados, não parece existir uma grande diferença entre os enterros, pelo que é difícil perceber se os mesmos foram concebidos para a realeza ou não.
Agora, o próximo passo é investigar se os 12 esqueletos estão relacionados. As análises também podem ajudar a avaliar as dietas e outras características importantes. “Deviam ser pessoas extremamente importantes, porque o local onde estão enterrados está num lugar de destaque. É a entrada principal da cidade”, explica Gates, que acredita que descobrir a sua identidade irá desvendar parte da história d’“O Tesouro”.
O preço do bilhete para visitar Petra durante o dia ronda os 66€. Os ingressos podem ser comprados online.
Como lá chegar
O aeroporto mais próximo de Pedra é o King Hussein, em Aqaba, que fica a cerca de 100 quilómetros de distância. Se partir de Lisboa ou do Porto, encontra bilhetes de ida e volta desde 499€. Caso apanhe o avião em Faro, há voos a partir de 839.
Carregue na galeria para ver mais imagens do local que serviu de cenário a um dos filmes mais conhecidos da saga “Indiana Jones”.