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É jardineira numa rua em Caxias há 17 anos, mas nunca trabalhou para a câmara

Maria Conceição rega as plantas, arranja canteiros e até apanha o lixo. “Faço disto o meu ginásio”, diz aos 73 anos.

A maioria dos oeirenses está habituada a ver, pelas ruas dos seus bairros, os jardineiros da Câmara Municipal uma vez por mês, ou até com mais frequência, a cortar troncos de árvores e a podar arbustos. Mas há uma rua em todo o concelho onde isso não acontece. A pergunta que se impõe é simples: “porquê?” A resposta tem nome próprio: Maria da Conceição.

Na rua Manuel da Silva Moreira Rato, os moradores deixaram de se preocupar com os seus jardins e espaços verdes. De forma unânime (e talvez inevitável) nomearem São, como é conhecida no bairro, a jardineira oficiosa e guardiã da harmonia da rua. 

“Faço disto o meu ginásio. Antes de me reformar, também tentava dar um jeito aos canteiros, mas há 17 anos que venho para aqui pelo menos três vezes por semana”, conta Maria Conceição, a caminho dos 74 anos.

Desde cortar, podar, retirar folhas secas, plantar e fazer arranjos, São faz um pouco de tudo e chega a perder a noção do tempo. “Às vezes penso, ‘vou só meia horinha’, e acabam por passar três e quatro horas”, confessa a jardineira. 

A paixão por plantas e flores sempre fez parte da vida da oeirense quando vivia em Algés, “em casa dos meus avós. Tínhamos um quintal muito florido com animais”, recorda. Quando se mudou para Caxias, em 1986, não quis deixar cair por terra a vontade de cuidar das zonas verdes. “Gosto de ver tudo arranjado, dá outro ar à rua, que também é a nossa casa”. 

Jardineira com rotina de dedicação e amor à terra

Durante muitos anos, São só se dedicava à jardinagem quando tinha algum tempo livre. No entanto, desde que está reformada que as plantas têm sido a sua companhia. “Trabalhava num tribunal e passava passava muito tempo fechada, mas quando conseguia vinha para cá. Desde que me reformei, ficou mais sério”.

Os vizinhos já a tratam como a jardineira do bairro e a maioria fica grata pela ação, totalmente gratuita, que Conceição oferece à comunidade. “Tenho um vizinho que me oferece sempre uma caixa de chocolates no Natal, em sinal de agradecimento. Mas não quero que me deem nada em troca”, diz.

“Outros chegam a oferecer-me plantas e árvores para plantar e já apanhei outros a cortar flores para fazer ramos, talvez para oferecer. Mas eu não me importo, até fico contente pois é sinal que estão bonitas”, afirma, entre risos.

Além de tratar das plantas, São colocou em todos os candeeiros latas vazias para os vizinhos depositarem beatas, traz pedras das obras para fazer arranjos de canteiros e recolhe outros objetos que encontra “por aí” para complementar os terrenos.

“Como não tenho carro, arranjei um trolley que encontrei em muito bom estado, para transportar as pedras que vou apanhando para fazer os canteiros. Utilizo para ficarem mais bonitos e para a água, com terra, não escorrer na direção da estrada quando estou a regar”.

Além das pedras, a oeirense vai aproveitando as vedações que encontra em bom estado e chegou mesmo a carregar troncos para compor os terrenos da rua. “Uma vez andava a carregar troncos de árvores que tinham sido cortadas noutras ruas aqui perto. Tinha de os trazer dois a dois, pois eram pesados, e vou sempre a pé. Fiquei quase até à meia noite”, confessa a jardineira.

Sem horários fixos e com total liberdade, Maria Conceição toma conta do jardim do bairro por gosto, sem esperar algo em troca. E enquanto as pernas conseguirem, vai tornando a vida dos moradores mais colorida (e certamente mais alegre). “Às vezes, as pessoas devem achar que eu sou maluca, mas gosto disto, de ver tudo direitinho, de reaproveitar coisas velhas e ver jardins compostos.”, confessa. 

Carregue na galeria para ver fotografias da oeirense e os canteiros da rua.

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