Uma das regras pelas quais Marta Antão se rege é nunca tocar saxofone em casa descalça mas sempre de sapatilhas. Assim evita a moleza, justificou a jovem de 21 anos que tem uma vida recheada de experiência nas mais diferentes áreas. Tudo começou quando se juntou à Sociedade Recreativa Musical de Carcavelos aos 14 anos. A ideia inicial era tocar flauta transversal ou piano, mas esses instrumentos não estavam disponíveis. Por isso optou pelo saxofone. “Já adorava saxofone mas sentia que não era para mulheres”, admitiu a jovem à New in Oeiras.
No entanto, a paixão foi inevitável e fez com que concorresse a uma bolsa para que o seu sonho continuasse. Ganhou a bolsa e estudou no Conservatório de Cascais durante dois anos. Raúl Gouveia, o seu professor do segundo ano, foi o grande responsável pela determinação de Marta em batalhar por um lugar no Conservatório Nacional de Música. Na altura, estava com medo da resposta dos pais mas estes foram os primeiros a apoiar a decisão da jovem. Com o seu talento enorme, o lugar estava garantido.
“Na altura, o meu professor disse que tinha potencial para muito mais. Então sugeriu que fizesse provas para o Conservatório Nacional, eu fiz as provas e pensava mesmo que não ia entrar. Achava que tinha corrido bem mas agora olho para trás e vejo que estava péssima. Não sei como consegui entrar. Depois ligaram-me e numa avaliação de 0 a 100, disseram-me que eu tive 85 ou 90 por cento. Lembro-me que um rapaz estava à minha frente e entrou logo, eu fiquei em lista de espera. Ao fim de um tempo, ligaram para a minha mãe a dizer que fui colocada. Entrei mas pensei: ‘será que vou?’ Era uma coisa que eu sempre quis porque a música sempre fez parte de mim, só que foi péssimo. Senti-me super deslocada”, revelou Marta.
Em conversa com a NiO, a jovem explicou que no início se sentia “pequena” ao lado dos colegas. Todos tinham “bagagem”, como lhe chama, e a única experiência que Marta tinha não era nada por aí além. Por outro lado, era tudo novo. Tocou com orquestra em salas como a do CCB e até fez parte da Orquestra de Sopros do Conservatório Nacional. Esta foi das melhores experiências que teve até hoje. No terceiro ano do Conservatório Nacional evoluiu no seu repertório e passou a tocar peças que nunca imaginava tocar.
Quando questionada sobre o momento em que percebeu que o saxofone era realmente o seu sonho, Marta descreveu um episódio que a marcou. “Quando toquei no Ano Novo com a minha banda no Colégio Maristas, lembro-me que estávamos a tocar com a Rita Guerra e eu senti-me bem lá. A sala estava cheia, até havia pessoas nas escadas e eu fiz dois ou três solos. Gostei bastante de ver o público a bater palmas de pé. Fez-me sentir preenchida”, recorda.
Concluídos os três anos realizou a prova de aptidão profissional para conseguir o tão merecido diploma. Tocou “Ballade”, a composição de 1939 escrita por Henri Tomasi, “Sonata” por Paul Creston e do compositor francês Pierre-Max Dubois tocou um concerto com três andamentos. Durante quase uma hora conquistou o júri e obteve 18 valores, a terceira nota mais alta.
Na realidade, a vida de Marta Antão dava um verdadeiro livro. Antes de apostar na música deixando de a encarar como um passatempo fez parte dos bombeiros como voluntária. “O meu pai é Bombeiro Oficial Superior e a minha mãe foi chefe. A minha irmã também foi voluntária e fez a escola lá. Eu não cheguei a fazer, porque a música interrompeu e não conseguia fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Quando o meu pai perguntou o que me chamava mais alto, eu respondi que era a música”, revelou.
A paixão pela arte e pelas várias maneiras de se expressar que não seja através de palavras, foi o que captou a sua atenção desde sempre. Por isso também dividiu o seu tempo com a fotografia. “Há um vídeo meu com uma câmara na mão e a dizer que queria tirar fotos e que gostava. Um dia tirei fotos a mim própria e as pessoas perguntavam-me que curso é que eu tinha tirado. E eu respondia ‘nenhum’. Quando o meu pai começou a elogiar as minhas fotografias nos bombeiros, os pedidos para sessões chegaram. E eu pensei: ‘porque não ganhar dinheiro com isto?’ Comecei a procurar mais sobre o assunto e fui fazendo as sessões fotográficas”, explicou Marta.
Desde que terminou o Conservatório, Marta está a trabalhar para conseguir juntar o dinheiro que precisa para entrar no Ensino Superior. O objetivo é ingressar na Escola Superior de Música de Lisboa e tirar o curso que sempre quis. Porém, existe outra alternativa que também considera: fazer parte de uma banda militar. “Se tivesse de escolher entrava na Marinha mas as vagas são muito poucas. Caso consiga entrar na Força Aérea, também aceito porque tudo o que conseguir é bom”, esclareceu a jovem à New in Oeiras.
Quando questionada sobre o que sente quando toca saxofone, Marta sentiu dificuldades em descrever a emoção mas o sorriso na cara depressa apareceu. “É libertador, estranho e desafiador. Não sei explicar bem mas a verdade é que quando estou a tocar, não penso em mais nada. Parece que sou transportada para outro mundo”, confessa.
Atualmente, Marta Antão ocupa os seus dias a dar aulas de saxofone a miúdos no Grupo Recreativo e Dramático 1º de Maio, em Tires. Além disso dá aulas privadas online a quem está a iniciar o seu percurso e ainda faz sessões fotográficas por não querer deixar de lado essa sua paixão. Para contactar Marta Antão para qualquer uma destas opções, basta enviar um email ou uma mensagem privada na sua página de Instagram.
De seguida, carregue na galeria para ficar a conhecer alguns trabalhos de fotografia de Marta Antão.