Mais de 120 jovens, num total de 15 categorias, foram selecionados para apresentarem os seus trabalhos na Mostra Nacional de Jovens Criadores, que decorreu entre 27 e 29 de outubro, em Vila do Conde. No último dia do evento, foram anunciados os vencedores de cada área. Entre eles, estava uma jovem de Paço de Arcos que se destacou na categoria de Arte Têxtil. Falamos de Clarisse Silva, de 23 anos, que não podia ter ficado mais feliz com este reconhecimento.
“Não estava à espera. Acho que ainda não assimilei, não sei explicar. É muito importante ter este apoio. E foi muito importante também o encontro com outros artistas”, revela a jovem. A obra apresentada e distinguida tem o título de “Abrigo Temporário”, uma instalação que reúne um conjunto de peças, entre o tecido, o prato de vidro e as molduras. “É como se fosse um abrigo, a intenção é que o sujeito se aperceba da fragilidade destes elementos. Quis trabalhar o tecido porque, para mim, é um material que consegue absorver as nossas passagens pelo mundo”, revela a artista plástica.
Na apresentação da peça, podemos ler: “Estamos destinados a seguir uma linha temporal pré-estabelecida, no entanto, surge uma nova noção de tempo, na qual os conceitos temporais são constantemente construídos e desconstruídos de raiz. E é através desta evocação ao passado e introspeção de determinadas memórias, que surge a obra ‘Abrigo Temporário’. Esta pretende representar o que está ausente para que fique presente, remetendo-nos a espaços que já habitámos, em que corpo e mente se unem, e à efemeridade da vida e a certeza da morte”.
A Mostra Nacional de Jovens Criadores, organizada pelo Gerador (plataforma portuguesa independente de jornalismo, cultura e educação), consiste num programa de estímulo à criação artística em Portugal. Ao longo de mais de 25 anos de existência, a iniciativa do Instituto Português do Desporto e Juventude já deu a conhecer vários artistas que marcam o panorama cultural português, entre eles os escritores Valter Hugo Mãe e Gonçalo M. Tavares, os estilistas José António Tenente e Maria Gambina e o bailarino e coreógrafo Victor Hugo Pontes.
Clarisse Silva faz agora parte deste grupo. A jovem revela o gosto por trabalhar com diferentes materiais, “principalmente os naturais, aqueles estão mais virados para a natureza, e não tanto os materiais industriais”. A experimentação material é, aliás, a base do seu trabalho e a inspiração é muitas vezes encontrada na zona onde vive desde sempre: Paço de Arcos. “Sem dúvida que sou influenciada pela zona. Estudei cinco anos em Lisboa e aqui sinto que é um refúgio da confusão. Tem vários espaços em que dá para escapar e ir mais ao encontro dos elementos naturais, que uso muito no meu trabalho”, afirma a jovem.
O prémio de mil euros, atribuído a cada um dos vencedores, já tem finalidade para Clarisse: “Quero continuar a mostrar o meu trabalho e a investir na minha carreira. Vou usar o prémio para investir em residências artísticas”, conta à NiO.
A verdade é que a arte sempre esteve presente na sua vida. Os pais incentivavam este gosto e Clarisse percebeu, desde cedo, que era uma excelente forma de se expressar. Quando chegou a altura de decidir que curso superior queria seguir, depois de passar por Design de Equipamentos, foi em Pintura, na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, que encontrou o seu lugar. Pelo meio, teve ainda a experiência de fazer Erasmus na Nova Academia de Belas Artes de Milão.
“Terminei o curso este ano, com a vontade de continuar os projetos artísticos que já tenho em mãos, continuar a explorar os materiais de que gosto, trabalhar com outros artistas e poder realizar residências artísticas”, conta Clarisse que, por enquanto, continua a usar o estúdio da faculdade para trabalhar, enquanto não tem o seu espaço próprio. A área têxtil e a escultura são os seus grandes focos no momento.
Carregue na galeria para conhecer melhor o “Abrigo Temporário” de Clarisse Silva e outras peças que fazem parte do seu portfólio.