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A CERCIOEIRAS fez 48 anos e criou um jardim sensorial para pessoas com necessidades especiais

Capacitar pelos sentidos é o objetivo do mais recente projeto da instituição, situada em Barcarena, e que foi inaugurado a 13 de outubro.
O novo espaço.

Flores, plantas e ervas aromáticas, instrumentos musicais, baloiços e o som de passarinhos a cantar. É um cenário que confere um ambiente agradável a qualquer jardim, mas neste todos os materiais e equipamentos presentes foram estrategicamente escolhidos com um objetivo claro: apostar num contexto de estimulação sensorial a vários níveis, desde tátil, olfativo e auditivo, para pessoas com necessidades especiais. Esta é a grande novidade da CERCIOEIRAS, apresentada a 13 de outubro, data em que a instituição celebrou 48 anos de atividade. 

O pátio interior daquela que tem sido a casa que acolhe e apoia pessoas com deficiência há quase meio século, sofreu uma renovação para se tornar num jardim sensorial, que visa capacitar pelos sentidos, despertando-os. “Temos várias pessoas em cadeira de rodas, por isso quisemos criar aqui estruturas como uma cama adaptada e baloiços, para que os nossos clientes possam desfrutar do ambiente com conforto, e com outro prisma de visão daquele que normalmente têm. Para outros, criámos pavimentos propriocetivos, para andarem descalços e sentirem as várias texturas. Há também plantas com diferentes aromas para sentirem e vários elementos sonoros acessíveis”, conta à NiO, Raquel Pereira, diretora geral da CERCIOEIRAS. 

O jardim tem diversos equipamentos adaptados às diferentes necessidades dos beneficiários, procurando estimular a descoberta, a exploração, a iniciativa, a participação, as emoções, o relaxamento, a cognição, a intenção comunicativa e a interação social, como refere a instituição. O projeto foi pensado e desenvolvido pela contínua ambição da mesma em fazer e oferecer sempre mais e melhor a quem precisa do seu apoio e cuidados. 

“Fazendo uma análise do contexto envolvente, deparamo-nos com lacunas que existem em jardins municipais e outros espaços do concelho, em termos de acessibilidade e oferta a estas pessoas. Algumas delas não têm oralidade, comunicam por vocalizações, expressões, pelo olhar, somos nós que temos que criar todos os estímulos que lhes permitam expressar-se. Se acontecer uma comunicação pelo olhar, por um gesto, por vocalização, por um som, já estamos a conseguir que essa pessoa transporte para as atividades da vida diária essa competência adquirida”, refere Raquel Pereira. 

Situada em Barcarena, a sede da CERCIOEIRAS é onde estão todos os seus serviços core, como a unidade residencial, “um dos maiores lares para pessoas com deficiência”, refere a diretora. São cerca de 50 clientes (designação dada pela instituição) que ali vivem, aos quais se acrescentam mais 45, que frequentam o centro de atividades e capacitação para a inclusão. “Temos conosco 95 clientes diariamente, com diversos tipos de deficiência e incapacidade”, garante. 

Para a CERCIOEIRAS este jardim, projeto cofinanciado pelo Prémio BPI Fundação “la Caixa” Capacitar 2022, é apenas o ponto de partida, garantindo que o espaço não está finalizado, podendo sempre crescer e receber novos elementos. Tudo para continuar a missão que assumiu desde o primeiro dia: “construir uma inclusão para todos os cidadãos”. 

Os pavimentos propriocetivos.

48 anos a lutar pela inclusão

Recuando 48 anos, chegamos a 1975, numa época em que existiam diversos estigmas relacionados com pessoas com deficiência. Muitas vezes, as famílias não sabiam o que fazer ou como ajudar os familiares com necessidades especiais por falta de informação, formação e ajuda, acabando muitas vezes por não conseguir dar-lhes o apoio e estímulos necessários à sua condição, por melhores intenções que tivessem.

É isto que nos conta João Pavão Nunes, presidente do Concelho de Administração da CERCIOEIRAS, instituição da qual faz parte há mais de duas décadas e, ele próprio, pai de uma pessoa com Trissomia 21. “Nos anos 70, há um grupo de pais de cidadãos com incapacidade, que não encontravam, na sociedade, respostas para as necessidades específicas dos seus filhos. Aí nasce o embrião da CERCIOEIRAS, inicialmente Cooperativa de São Pedro de Barcarena, com o objetivo de criar condições para que esses cidadãos com incapacidade pudessem ser integrados na sociedade. Foi uma luta que levou muitos anos a conseguir”, revela.

O objetivo é, desde então, sempre o mesmo: capacitar os deficientes e integrá-los, para que sejam bem aceites pela sociedade. “Havia alguns estigmas. A sociedade e as próprias famílias tinham dificuldade em ultrapassar os desafios e a tendência, regra geral, era meter o deficiente para um canto, escondê-lo, não havia nenhum apoio à estimulação. Os nossos objetivos passam, claro, pela integração deles, mas também pela capacidade de os próprios familiares conseguirem ter a sua vida própria. Muitos progenitores ficavam afetos às necessidades do deficiente. Levámos muitos anos a conseguir isto. Mas a própria sociedade evoluiu e hoje em dia consegue dar-se uma melhor resposta a estes casos”, refere João Pavão Nunes. 

Promovendo a educação e reabilitação de cidadãos com incapacidade, a instituição orgulha-se de humanizar o atendimento de pessoas com deficiência e às suas famílias. De acordo com o presidente do Concelho de Administração, muito se deve à excelência da equipa que, todos os dias, trabalha nesta missão: “Duas das preocupações nesta instituição, em relação à capacidade da prestação de serviços, foi a constituição de uma equipa de excelência, muito vocacionada e bem formada, porque felizmente foram aparecendo as formações específicas desta área. Sem dúvida, que os técnicos têm sido o maior suporte da instituição. E também não posso deixar de referir as famílias, que se dedicaram muito”. 

“Iremos sempre continuar a trabalhar com o objetivo da inclusão do cidadão, desenvolver as capacidades que tem, seja uma deficiência intelectual ou outra, todos temos as nossas aptidões especificas, e queremos precisamente fazê-lo desenvolver essas aptidões e integrá-lo. Aqui na CERCIOEIRAS temos multideficientes, desde Trissomia 21 até autismo, entre outros tipos. De forma geral, vamos encontrar casos praticamente vegetativos, até casos de jovens que se integraram muitíssimo bem, e que têm muitas das aptidões pelas quais lutamos para que as desenvolvem. Essa era outra preocupação, criar condições para que eles fossem capazes de ser autónomos“, refere João Pavão Nunes.

Visite o site da CERCIOEIRAS para conhecer melhor todos os projetos desta casa e siga as redes sociais como o Facebook e Instagram para ficar a par das novidades, eventos e projetos que vai desenvolvendo. Podemos avançar que os beneficiários já puseram mãos à obra para criar artigos alusivos ao Natal, que serão vendidos em mercados locais. 

De seguida, carregue na galeria para ver mais imagens do novo jardim sensorial da CERCIOEIRAS. 

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