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A história do árbitro surdo de Caxias que agora está a estudar para ser treinador

O oeirense começou por tirar o curso de árbitro e atualmente arbitra jogos na AFL.
Ainda arbitra jogos.

David Santos tem 37 anos e terminou os estudos após completar o último ano do curso de Design de Comunicação. Atualmente trabalha na Casa Pia como educador pré-escolar, atividade que exerce há cerca de cinco anos. 

A aventura no mundo da arbitragem começou quando tinha 26 anos. “Apesar de nunca ter sido jogador federado, gostava de jogar com os meus amigos e participava em torneios”, conta. No entanto, o oeirense sempre gostou de ver partidas de futsal e num dos jogos centrou a sua atenção nos árbitros. “Ia assistindo aos jogos da AFL (Associação de Futebol de Lisboa) e comecei a aperceber-me da importância do papel do árbitro, ia observando e a ficar cada vez mais interessado pela profissão”, confessa. 

David nasceu com incapacidade auditiva, mas essa condição nunca foi impedimento para se aventurar em novos desafios. Decidiu, então, seguir a carreira de árbitro de futsal e, em 2018, tirou o curso: “Nunca tive nenhum constrangimento, aliás para arbitrar é mais importante e necessário conseguir ver do que ouvir”, sublinha.

Atualmente, a par do trabalho, David é árbitro na Associação de Futebol de Lisboa e arbitra jogos de todos os escalões, masculinos e femininos. “Comecei há oito anos e gosto muito. Às vezes, as pessoas perguntam-me se muda alguma coisa, eu respondo que não — comunico de forma natural com os meus colegas, se eles não perceberem alguma coisa, há sempre outras opções, como a mímica, por exemplo”, diz. 

“Tenho algumas histórias engraçadas. Nos meus primeiros anos a arbitrar jogos, as pessoas ficavam surpreendidas por ser surdo. No final dos jogos havia sempre quem me perguntasse: ‘Como é que ouves o apito?’ ou ‘Como é que sabes se o teu colega apitou a falta?’, e eu respondia sempre que ia trocando informações à distância com o meu colega, ‘por código’, e até era melhor assim”, conta à New in Oeiras.

A condição de David acaba por ser uma mais-valia durante os jogos que arbitra. “Na prática, nos jogos, o facto de eu não conseguir ouvir traz-me a necessidade de apurar os meus outros sentidos, como a visão, por exemplo. O que muita gente não sabe é que a maioria dos surdos tem visão periférica e, por causa disso, consigo ficar mais atento ao que se passa à minha volta e vejo melhor os lances”. 

Durante o seu percurso como árbitro, David já apitou jogos em competições especializadas, como a Deaf Champions League Futsal, uma liga dos campeões de futsal para equipas surdas, em 2023, na Bélgica e na Suécia. Apesar da paixão pela arbitragem ao longo destes anos, dentro das quatro linhas, David tem vindo a desenvolver um gosto especial pelo cargo de treinador. A vontade de aprender aliada ao gosto de conviver com os mais novos levaram o oeirense a explorar novas áreas do futsal.

Em 2024, o árbitro inscreveu-se no curso de treinador de futsal. “Tive a oportunidade de assistir a alguns treinos e fui-me encantando. Ia estando presente e comecei a gostar de ensinar os jovens. Então decidi tirar o curso de treinador “, afirma. 

Com os objetivos bem definidos, David vai continuando a apitar partidas enquanto se forma como treinador e até já sabe por onde começar. “Gostava de treinar uma equipa de rapazes que tivessem entre os 11 e 13 anos, o equivalente ao escalão de infantis”, diz. “Acho que é sempre muito importante começar por baixo, ganhar experiência e, posteriormente, liderar equipas mais velhas”, conclui.

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