Nos últimos meses, ao entrar no Palácio Anjos, a sensação é que saía de Algés e viajava automaticamente para o outro lado do Atlântico, para as paisagens incríveis de algumas zonas do Brasil onde, ainda hoje, vivem comunidades indígenas. A culpa é das fotografias tiradas por Ricardo Stuckert, fotojornalista brasileiro de 52 anos, que reuniu na exposição “Povos Originários — Guerreiros do Tempo”, imagens que foi capturando ao longo de várias décadas.
A mostra, que foi inaugurada a 21 de abril, estava prevista terminar a 16 de julho, mas o Município de Oeiras decidiu estendê-la até ao final do mês. Caso ainda não tenha tido oportunidade de visitá-la, pode fazê-lo até domingo, 30 de julho, entre as 11 e as 18 horas. Os bilhetes têm o valor de 2€ e podem ser adquiridos na própria bilheteira do Palácio Anjos.
Na véspera do encerramento, porém, vai poder conhecer a exposição de uma forma mais completa, através de uma visita guiada marcada para o meio-dia, a 29 de julho. O valor é de 2€. Poderá, assim, ficar a conhecer ao pormenor as histórias por detrás destas imagens impactantes, que levam o público a viajar pelos olhares, pela beleza, costumes e tradições milenares dos povos originários do Brasil.
“Descobri um universo fantástico. Cada aldeia que visitei foi uma aprendizagem. O modo de viver dos indígenas é fantástico. Eles vivem com simplicidade, com aquilo que a floresta oferece. Têm orgulho de manter a cultura preservada. Ensinam-nos a importância de viver em comunidade, de respeitar e preservar a natureza“, contou o fotógrafo à New in Oeiras, na inauguração da mostra.
Já viajou pelo mundo, mas uma das viagens que mais o marcou foi a primeira vez que esteve na Amazónia, em 1997. A imagem de uma mulher yanomami — um grupo indígena da floresta Amazónica — ficou profundamente gravada na sua memória, ao ponto de 17 anos depois regressar à mesma aldeia para tentar encontrá-la e fotografá-la de novo.
Foi o olhar profundo e hipnotizante de Penha Góes (pode ver na galeria de imagens), na altura com 22 anos e, depois, com 39 no reencontro, que fez Ricardo assumir a missão de registar, de forma ampla, a vida dos indígenas brasileiros que tanto o fascinava, prestando-lhes homenagem e, ao mesmo tempo, tornando-os mais conhecidos fora do seu território, de forma a mostrar a importância da sua cultura e de todos os elementos que envolvem o seu ancestral e místico universo.
O fotógrafo iniciou uma verdadeira jornada pelas mais diversas regiões do Brasil, à descoberta das comunidades indígenas. Passou pelo Acre, Amazonas, Alagoas, Bahia e Mato Grosso. Ao todo retratou nove etnias, como os Yanomami, os Ashaninka, os Yawanawá, os Kalapalo, os Kayapó, os Pataxó, os Kaxinawá, os Xukuru-Kariri, os Korubo e outros povos isolados, captando as singularidades de cada uma.
Desta forma, o fotógrafo mostra a diversidade e pluralidade da cultura indígena, fazendo com que as imagens viagem pelo mundo, não só para dar a conhecer a magnitude destes povos, mas também como um alerta. “Espero que as fotografias dessa exposição promovam uma reflexão sobre a importância dos indígenas como os verdadeiros guardiões das florestas. Eles são os responsáveis por manter as florestas brasileiras sãs. Eles precisam que seus territórios sejam demarcados, que suas comunidades não sejam invadidas, precisam ser respeitados. Preservar essas populações e as terras habitadas por elas é hoje uma questão de sobrevivência para todos nós“, afirma.
Com mais de três décadas de experiência, Ricardo Stuckert começou por trabalhar em alguns órgãos de comunicação brasileiros. Foi durante oito anos fotógrafo oficial da Presidência da República no Brasil, nos dois primeiros mandatos de Lula da Silva (2003 a 2010), cargo a que regressou no início deste ano. Recentemente dedicou-se também à direção de fotografia do filme ‘Democracia em Vertigem’, da brasileira Petra Costa, nomeado ao Óscar de Melhor Documentário em 2020 pela Academia de Hollywood.
Carregue na galeria para conhecer algumas das fotografias presentes na exposição e imagens da inauguração.