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“Past Lives”: o belo e devastador filme sul-coreano candidato ao Óscar

A primeira obra realizada por Celine Song tem sido comparada a "Parasitas". Estreou esta quinta-feira, 8 de fevereiro.
Está a receber elogios do público e da crítica.

“Todos nós temos vidas que deixámos para trás”. A frase de Celine Song com a qual muitos se identificam, resume perfeitamente “Past Lives“, que marca a estreia da sul-coreana na realização. A inexperiência, contudo, não a impediu de ver a obra nomeada ao Óscar de Melhor Filme, ao lado de outros grandes fenómenos de 2023, como “Barbie”, “Oppenheimer” e “Pobres Criaturas”.

A produção chegou às salas de cinema nacionais esta quinta-feira, 8 de fevereiro. O filme acompanha a relação de Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Tee Yoo) ao longo de várias décadas, mesmo após o afastamento físico emocional de ambos. Conheceram-se ainda miúdos, em Seul, e quando se voltam a cruzar, 20 anos depois e já nos Estados Unidos, o reencontro é devastador.

Duas pessoas, que parecem perfeitas uma para a outra, deixaram passar a oportunidade de construir uma vida juntas. O conceito é simples, mas as nuances da relação de amor e amizade dos protagonistas ajudaram a criar uma das histórias mais cativantes do cinema dos últimos tempos.

“Não é um filme que fantasia sobre os múltiplos universos ou super-heróis. Fala, sim, de vidas banais. Acho que é por causa disso que as pessoas se identificam tanto com ele”, conta a cineasta de 36 anos ao “Korea Joong Ang Daily”.

Com uma história aparentemente banal, Celine também dá a conhecer um pouco da cultura sul-coreana. “A ideia de inyeon [uma palavra que significa destino] é muito conhecida entre nós, mas as pessoas lá fora não têm este conceito. Foi muito gratificante ver toda a gente a sentir o significado de inyeon através do filme”, confessa. “É um termo muito vasto e está aberto a toda a gente”, acrescenta.

No filme, que recebeu cinco nomeações aos Globos de Ouro, há outra personagem importante: Arthur (John Magaro), o marido de Nora. O triângulo amoroso da trama é inspirado na própria vida da realizadora. “A cena onde as personagens estão juntas a beber num bar em Nova Iorque foi inspirada de quando um amigo de infância me veio visitar à East Village e esteve comigo e com o meu marido”, recorda.

Enquanto estava no meio dos dois e traduzia tudo o que diziam, sentia como se estivesse a decifrar a sua própria história. “O meu passado e o meu presente estavam sentados ali, ao mesmo tempo. Quando contei isto aos meus amigos, todos disseram que lhes tinha acontecido algo semelhante, então comecei a escrever um guião com base nisso”, afirma.

Nova Iorque não é a única cidade que marca presença na produção. Parte das gravações decorreram em Seoul, mas longe dos locais mais turísticos. “Quando as pessoas que vivem Paris ou Nova Iorque falam das suas casas, nunca mencionam monumentos óbvios, como a Torre Eiffel. Falam, sim, dos cafés e restaurantes aonde vão. E também é isso que acontece com os sul-coreanos. Não fomos à Torre de Namsan, mas sim aos que os elementos da nossa equipa frequentam diariamente”, reforça a cineasta.

A nomeação ao Óscar fez com que “Past Lives” se tornasse o terceiro filme sul-coreano a concorrer à categoria de Melhor Filme. “Parasitas”, de 2019, acabou por vencer a estatueta, e “Minari” (2020) rendeu o prémio de Melhor Atriz Secundária a Youn Yuh-jung.

“As pessoas dizem que ‘Past Lives’ é o próximo ‘Parasitas’ ou ‘Minari’, e sinto uma enorme pressão por causa disso. Mas creio que são todos muito diferentes. Ao mesmo tempo, sinto uma grande honra e é um enorme elogio”, revela.

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