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Palácio Anjos recebe exposição do artista plástico oeirense Carlos Nogueira

Pode visitar a mostra "água. e a casa é o mundo", de terça-feira a domingo, até dia 29 de dezembro. O bilhete custa 2€.
Carlos Nogueira, de 76 anos, liderou a visita de inauguração da mostra.

Chama-se “água. e a casa é o mundo” e é a exposição que, desde dia 22 de setembro, ocupa as salas do Palácio Anjos, em Algés. É a terceira grande mostra que este palacete transformado num centro de arte contemporânea, recebe este ano. Da autoria do artista multidisciplinar Carlos Nogueira, o certame está aberto ao público até ao final do ano. 

Nascido em Moçambique, em 1947, Carlos Nogueira conta à New in Oeiras que as suas raízes estão presentes em tudo o que faz, apesar de morar há várias décadas em Oeiras, onde tem também o seu atelier. “Nasci muito longe. Nunca nos lavamos das origens. A minha terra deu-me a noção do que é o mar, a terra, o céu, o ar, o espaço, o verde. Mas dela estou distante e distanciado. E, por isso, considero que a minha terra agora é Oeiras, onde vivo desde a década de 70”. No entanto, esta é a sua primeira exposição individual no concelho onde reside. 

Composta por mais de 40 peças que se dividem em esculturas, pinturas e desenhos, a exposição leva os visitantes a viajar pelo universo criativo do artista. “O Carlos tem uma carreira artística com 50 anos. Há temas constantes na sua obra. Trabalha muito as questões do território, da arquitetura, a ideia da casa agregada a uma consciência muito forte da construção, que se liga à atenção da escolha de materiais específicos, à maneira como eles são trabalhados para as obras. Ele encontra objetos e transforma-os. Além disso, tem uma noção muito forte da natureza e da paisagem”, revela a curadora Catarina Rosendo.

No seguimento, Carlos explica-nos o significado do título: “Agreguei a água, a casa e o mundo. Trabalhando eu o mar e os rios, estou a trabalhar também a água, que é um bem cada vez mais precioso. Depois, a casa, que é o guarda-joias da vida, absolutamente fundamental. E a casa de cada um é um mundo, está tudo ligado”. 

As obras espalham-se pelas várias salas dos dois pisos do palácio, num percurso fluido que se organiza “através das afinidades plásticas e narrativas que as obras criam entre si, valorizando uma dimensão poética do habitar o mundo que Carlos Nogueira tem vindo, desde sempre, a investigar e a transformar em matéria e presença”, refere o texto curatorial.

Este processo transformativo está presente em muitas das obras expostas. Algumas foram criadas há vários anos e agora recuperadas, pintadas com nova cor, reorganizadas no espaço, ganhando uma nova vida. Outras foram terminadas dias antes da exposição. A conjugação de obras antigas e recentes, com processos de recuperação, agregação e reorganização de objetos “diluem o tempo e abrem cada trabalho a novas potências significativas”. A interpretação fica aberta ao critério de cada visitante. “Nunca explico as minhas obras”, sublinha Carlos.

“A exposição deve ter e dar espaço para que as pessoas tenham tempo de mergulhar nas obras e respirar entre cada uma”, refere o artista. “Uma obra tem que ser capaz de atravessar o tempo e temos que deixar espaço para as questões que possa suscitar em cada pessoa”, conclui.

Na primeira sala à esquerda, assim que entra no palácio, vai encontrar três elementos que compõem a instalação “desenho de uma casa inclinada com dois rios”. A simbologia da água, tão presente em todo o seu trabalho, está ali representada através de uma peça feita com carvão, num fluxo que merece a sua demorada atenção. O carvão é, aliás um material muito presente no seu trabalho, nos últimos anos. É dele que vem a cor que pinta muitas das obras expostas. 

“O carvão é negro e eu uso o carvão. Aquilo que fiz foi descobrir uma maneira de o agregar e estabilizar mantendo a qualidade, numa mistura criada por mim”, conta à NiO. Na verdade, o negro compõe um dos binómios largamente explorados no seu trabalho: o negro e o claro, o dia e a noite, o escuro e a luz. Um contraste que marca também esta exposição.

Um contraste muito presente no seu trabalho.

“Há um aspeto performativo no trabalho do Carlos que, nos primeiros anos, se prendeu com performances, e em anos mais recentes tem dado lugar a uma performatividade dos próprios materiais no momento em que está a trabalhar. Objetos que estão pousados muitos anos e depois ele transforma-os”, afirma a curadora. 

Neste processo usa diferentes materiais, como mobiliário, objetos domésticos, materiais de construção, betão, ferro, vidro, pedra, madeira, gavetas, caixas, roupa, estendais, colas, carvão, entre outros. “A articulação entre a arquitetura, a construção, o território, a paisagem e a natureza, mediada através dos objetos do quotidiano, dos sentidos e das perceções do corpo, organiza o conjunto selecionado de trabalhos que é possível ver”, lê-se no texto curatorial. 

No dia da inauguração, Carlos Nogueira mostrou-se feliz por poder dividir com o público este importante momento na sua longa carreira. “A cultura é o cimento dos povos”, refere, concluindo: “Aquilo que gostaria era que cada pessoa que cá viesse sentisse que valeu a pena”. Pode saber mais sobre o artista, que também tem dedicado a sua vida ao ensino, no seu site oficial. 

A exposição está patente no Palácio Anjos até 29 de dezembro, de terça-feira a domingo, das 11 às 18 horas (última entrada às 17h30). O Palácio Anjos situa-se na Alameda Hermano Patrone, em Algés. O preço base do bilhete e de 2€ e pode adquiri-lo na Tickteline e no próprio Palácio Anjos (dentro do horário de funcionamento da exposição).

Há descontos aplicáveis a jovens dos 18 aos 25 anos, a famílias (um adulto com dois ou mais filhos menores de 18 anos), a grupos de dez ou mais pessoas e a professores, mediante apresentação de cartão de identificação profissional — estes grupos pagam apenas 1€ de entrada. 

Estão programadas visitas guiadas para o público em geral nos dias 21 e 28 de outubro ao meio-dia; no dia 11 de novembro às 15 horas; no dia 25 de novembro ao meio-dia e a 16 de dezembro às 15 horas. Aplica-se o preço base, com os descontos já referidos. 

Carregue na galeria para ver algumas imagens da exposição “água. e a casa é o mundo”, antes de ir visitá-la ao vivo.

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