Durante cerca de 12 anos, Francisco foi a figura máxima da Igreja católica e representou uma mudança radical de perfil, depois do austero e conservador Bento XVI. O Papa morreu esta segunda-feira, 21 de abril, aos 88 anos, mas em vida falou abertamente sobre o seu passado. Em dezembro de 2023, durante uma visita a um grupo de fiéis na Igreja de São Cirilo de Alexandria, em Roma (Itália), recordou os curiosos trabalhos que teve durante a juventude.
Antes de adotar o nome de sacerdote, Jorge Mario Bergoglio trabalhou como segurança na cidade de Buenos Aires, na Argentina, onde nasceu. Foi, segundo as suas palavras, “um buttafuori”, termo usado para identificar uma figura ameaçadora que muitos espaços noturnos contratam, com o mero objetivo de expulsar quem esteja a incomodar os clientes ou a equipa.
Quando chegou ao bar, cujo nome não foi identificado, manteve o emprego durante cerca de um ano, desempenhando duas funções distintas. À noite, tinha como missão garantir a ordem no local; durante o dia, assumia algumas tarefas de limpeza, mantendo as mesas e o chão lavados.
Esta oportunidade de ganhar algum dinheiro extra para se sustentar surgiu enquanto Francisco, de 18 anos, estudava no liceu com o sonho de ser técnico químico. Naquela altura, ele acumulou mesmo vários trabalhos, como, por exemplo, contabilista numa fábrica de meias local.
Porém, só quando trabalhou num laboratório é que se tornou próximo de um comunista assumido, o que lhe despertou interesse pelas obras marxistas. Bergoglio lia várias publicações sobre política e “adorava todos os artigos”, o que terá influenciado a sua visão modesta enquanto líder da Igreja Católica.
A verdade é que, antes de entrar para o sacerdócio, o atual Papa viveu uma vida com circunstâncias desfavoráveis. A sua família fugiu da Itália sob o regime fascista de Benito Mussolini, sete anos antes do seu nascimento e, enquanto imigrantes, lutaram com dificuldades económicas, o que o obrigou a procurar outras alternativas.
Ao contrário do que possa parecer, à primeira vista, trabalhar num bar não estava totalmente fora da sua zona de conforto. Afinal, estava rodeado de música e Bergoglio, como qualquer bom argentino, é um fanático de tango que cresceu a ouvir e a dançar esses ritmos típicos do país sul-americano.
Na conversa com os fiéis, em Roma, destacou também que, ao ter que interagir com tantos tipos de pessoas, aprendeu a compreendê-las e a comunicar melhor com elas, apesar das tentativas de ser “um buttafuori” intimidante. Mais tarde, isto ajudou-o a saber como fazer com que as pessoas se sentissem à vontade para regressar à Igreja.
Em 1958, aos 22 anos, Francisco seguiu um caminho totalmente diferente do que estava previso ao ingressar na Companhia de Jesus, tornando-se um padre jesuíta em 1969. Ganhou cada vez mais destaque na Igreja Católica, sobretudo devido ao seu compromisso com os pobres.
Na realidade, ao longo do papado, Francisco ficou conhecido pela tolerância sem precedentes, criticando com frequência o capitalismo de mercado livre. No início, recusou-se até a usar as vestes cerimoniais extravagantes em função de um uniforme mais simples.
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