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Oeiras recebe mostra em homenagem ao construtor de guitarras portuguesas Gilberto Grácio

Foi o último artesão da família Grácio. O legado e trajetória do mestre está patente no Palácio do Egipto a partir de 3 de março.
A arte de criar instrumentos musicais.

“Mãos de Mestre – Mestre Gilberto Grácio, O Legado de Um Guitarreiro” é o nome da exposição que vai ser inaugurada esta sexta-feira, dia 3 de março, no centro cultural Palácio do Egipto, em Oeiras. A iniciativa do município pretende não só honrar a memória do construtor de instrumentos musicais, como também incentivar e valorizar o trabalho de quem por ele se deixou influenciar.

Gilberto Grácio nasceu em 1936, em Lisboa. Com apenas 12 anos começou a construir instrumentos na oficina do pai, dando continuidade a um ofício iniciado pelo seu avô. Aos 14 anos começou ele próprio a comprar os materiais para a oficina do pai, segundo a biografia que se encontra no Museu do Fado. O jovem Gilberto afiava as ferramentas e foi, aos poucos, aprendendo a conhecer as madeiras, material muito utilizado na construção de instrumentos de corda. Com 17 anos construiu o seu primeiro instrumento, uma viola. 

Era apaixonado por fado e tocava viola e bandolim, mas a construção e afinação dos instrumentos veio sempre em primeiro lugar. Das suas mãos saíam guitarras portuguesas e violas, adquiridas por vários músicos profissionais, como Carlos Paredes e António Chaínho. De acordo com o Museu do Fado, Gilberto Grácio contava com mais de um milhar de instrumentos construídos por si. 

Para não deixar morrer a tradição, em setembro de 2003 abriu uma oficina de formação, através do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e da Câmara Municipal de Oeiras, cujas instalações se situavam no Alto da Loba, em Paço de Arcos. O mestre transmitia a sua arte aos alunos, futuros construtores de instrumentos musicais. Tinha o método de ensinar primeiro a construção da viola, mais simples, e só depois a guitarra portuguesa. Vários músicos ligados ao fado, garantem que o timbre e sonoridade especial das guitarras de Gilberto Grácio não têm comparação. 

Gilberto Grácio numa das formações. Imagem: CMO

A história do mestre Grácio cruza-se com Oeiras ainda nos anos 90, quando colaborou no projeto de inserção sócio-profissional da comunidade cigana de Algés,  na qualidade de formador, de 1997 a 2001. Depois, entre 2002 a 2003, foi então professor no curso de Construção de Instrumentos Musicais promovido pela Câmara Municipal e, quatro anos mais tarde, juntamente com dois ex-formandos, criou uma oficina em Carnaxide, num dos ateliers da Quinta do Sales, onde manteve atividade até se ver forçado, por questões de saúde, a abandonar o trabalho.

Foi várias vezes reconhecido pelo seu trabalho. Em 2002 recebeu a Comenda do Presidente da República Jorge Sampaio e, em 2019, o Museu do Fado prestou-lhe homenagem na inauguração da Oficina de Construção da Guitarra Portuguesa, com a atribuição de uma sala que lhe é dedicada. Gilberto Grácio faleceu em novembro de 2021, mas deixou um enorme legado que acompanhará as futuras gerações de construtores de instrumentos musicais, especialmente de viola e guitarra portuguesa.

Gilberto foi o último artesão da reconhecida família Grácio, cujo nome ficará para sempre marcado na história da guitarra portuguesa. Além da sua mestria na construção de instrumentos, Gilberto criou o guitolão, instrumento inédito de 12 cordas, cuja origem remonta à guitarra portuguesa, modelo de Coimbra. Do guitolão apenas existem dois exemplares, já que o autor quis dar a este instrumento um cunho de quase raridade.

É precisamente o legado e a trajetória do mestre Gilberto Grácio, a base desta nova exposição, onde vai poder conhecer o percurso da família Grácio, uma dinastia de construtores de instrumentos musicais com o mesmo ofício, que passou por três gerações. Há um especial foco nas técnicas e materiais utilizados, nas ligações ao fado de Coimbra e Lisboa (e as suas diferenças) e, consequentemente, a sua ligação ao património imaterial de Oeiras, garante a autarquia.

A inauguração está marcada para o dia 3 de março, sexta-feira, às 18h30. Poderá visitar a mostra até dia 13 de maio, de terça-feira a sábado (encerra aos feriados), das 11 às 17 horas, no Palácio do Egipto, que fica na Rua Álvaro António dos Santos 10, em Oeiras. A entrada é livre. 

 

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