“Estou cansado. Desta vez, tudo custa muito mais. A espera, as notícias diárias e toda esta insegurança e instabilidade em que se vive. A doença do meu pai. O aparecimento da diabetes da minha mãe.” Foi com este texto que a 13 de fevereiro de 2021 Nuno Guerreiro revelou que não estava a saber lidar com a própria vida, pouco depois de o pai falecer.
O cantor morreu esta quinta-feira, 17 de abril, num hospital em Lisboa, aos 52 anos. Entre concertos e gravações ao longo da carreira, foi a morte do progenitor que marcou — e assombrou — a sua vida até aos últimos dias.
O seu pai lutava contra esclerose múltipla desde 2018. “Infelizmente, apareceu-te algo como esclerose múltipla. A partir daí, tudo mudou nas nossas vidas, reaprendi a viver e a dar valor a tudo o que a vida nos proporciona de bom e menos bom. Enquanto cá estiveres, paizinho, cá estarei para te amar, apoiar, dar a papinha na boca e ajudar em tudo o que estiver ao meu alcance”, escreveu nas redes sociais nesse mesmo ano, numa espécie de carta aberta para o pai.
Com o passar dos anos, o estado de saúde apenas foi piorando e, a certa altura, já não sabia quem era o próprio filho. “Houve alturas em que ele me chamava outros nomes, houve dias em que me perguntava quem era eu”, contou à “TV Guia” em 2021, uns meses após a morte do pai.
Durante o tempo que o progenitor passou a lutar pela vida, Nuno Guerreira nunca saiu do seu lado, tal como contou o próprio no programa “Dois às 10”, da TVI. “As pessoas não imaginam como é que é assistir diariamente a um familiar que lida com esta doença, mas senti-me na obrigação de ser o cuidador dele porque sempre me deu muito carinho e amor. Quis dedicar-lhe todos estes anos.”
O sentimento que nutria pelo pai “era tão puro” que não imaginava dar aquele cargo a qualquer outra pessoa — “e não seria eu se não o fizesse”.
“Foi muito duro, mas sinto-me bem. Sei que o meu pai está muito feliz neste momento.”
Os anos após a morte do progenitor passaram e Nuno Guerreiro aprendeu a lidar com essa ausência, mas nunca aceitou o facto de não se ter despedido. Afinal, os últimos momentos do pai foram passados numa cama de hospital e, devido à pandemia da Covid-19, o vocalista dos Ala dos Namorados nem sequer o podia ver.
“O pior de tudo foi não me poder despedir. Desde que ele foi para o hospital que não o pude visitar. Nunca mais o vi. O dia da cremação foi o pior. Vai faltar sempre a despedida.”
Em conversa com Cláudio Ramos e Maria Botelho Moniz, no programa da TVI, em 2022, também falou sobre a relação que tinha com o pai, um homem que descreve como sendo “introvertido”. “Eu saí mais à minha mãe, Regina, que é extrovertida e diva”, brincou.
Além de tímido, o progenitor era super exigente, mas, ainda assim, capaz de demonstrar amor — embora não o fizesse da forma que Nuno poderia esperar.
“Ele não era de beijos e abraços”, recordou. “Mas depois aparecia em concertos que eu não estava à espera. Na altura em que dançava também vinha a saber que ele estava no público. Era assim que ele demonstrava carinho.”
Leia o artigo e descubra como foi o último concerto da vida de Nuno Guerreiro, o artista que, com um sonho, mudou-se aos 16 anos para Lisboa. Carregue na galeria e veja imagens do espetáculo.