Há quase um século, a história d’“A Branca de Neve e os sete anões” começava a conquistar fãs, tendo atravessado gerações ao longo dos anos. Naturalmente, a Disney não deixou passar a oportunidade de recriá-la no cinema, lançando o famoso filme nos anos 30 do século XX. Acontece que, de 1937 a 2023, muita coisa mudou, e o que era uma fórmula vencedora é agora uma receita para o desastre.
A história, baseada no conto de fadas alemão do século XIX dos famosos irmãos Grimm, foi alvo de várias alterações ao longo dos anos. A nova versão não é exceção, com atores e produtores a alertarem, desde logo, os espectadores que não vão encontrar a mesma narrativa.
Desde logo, há uma revolução nos célebres sete anões, que deixam de ser anões para dar lugar a um grupo de indivíduos que vive algures na floresta. Foi isso mesmo que se pôde ver no curto teaser de 30 segundos revelado no evento da Disney em 2022.
No papel principal estará Rachel Zegler, que será acompanhada por Gal Gadot, a nova Rainha Má. Zegler tem sido também fonte de instabilidade na produção. Foi desde logo criticada por muitos fãs por se tratar de uma atriz com ascendência latina a assumir o papel de uma mulher apelidada de “Branca de Neve” por, supostamente, “ter a pele branca como a neve”.
A escolha também surpreendeu a atriz de 22 anos. “Nunca imaginei que isso seria possível. Normalmente, não vemos Brancas de Neve de ascendência latina. Mesmo que a Branca de Neve seja realmente importante em países de língua espanhola”, disse.
“Quando foi anunciado [que tinha ficado com o papel], fui conversa no Twitter durante dias. As pessoas estavam zangadas. Essas pessoas precisam de ser educadas. Precisam de ser acarinhadas de forma a perceberem o que se passa. Precisamos de as conduzir na direção certa. É que ao fim do dia, eu tenho um trabalho para fazer e que quero muito fazer: quero ser uma princesa latina.”
O facto de o filme ter sido anunciado em 2016, e só ter estreia prevista para 2024, tem feito com que haja demasiada especulação — e impaciência. O processo de escolha de realizador e argumentistas também não foi fácil. Falou-se em Erin Cressida Wilson, depois Greta Gerwig também esteve envolvida, até que o trabalho caiu nas mãos de Dorothy Ann Blank, Richard Creedon e Merril de Maris, numa produção realizada por Marc Webb.
Em julho de 2023, o “The Daily Mail” voltou a reacender a polémica dos anões, com a publicação de imagens das gravações que parecem confirmar que os sete anões não serão anões, numa decisão que estará ligada à inclusão. A história foi aliás criticada por Peter Dinklage que, em 2022, se referiu ao conto como “uma história datada sobre sete anões que vivem numa caverna”.
A Disney chegou mesmo a revelar que estaria a tentar “uma abordagem diferente”. Isso mesmo comprovou o facto de a produção ter contactado membros da comunidade de pessoas com nanismo “para evitar reforçar estereótipos”.
Zegler, a protagonista, também não tem ajudado. No final de 2022, confessou não ser fã da primeira produção, quando abordou a sua participação no remake. “Tinha medo da versão original. Acho que a vi uma vez e nunca mais voltei a ver. Vi-o pela primeira vez com 16 ou 17 anos, quando já estava a trabalhar neste filme.”
Questionada sobre o que muda ou o que mudaria, foi clara. “Quero dizer que já não estamos nos anos 30. A Branca de Neve não vai ser salva pelo príncipe. Não sonha com o verdadeiro amor. Sonha tornar-se a líder que sabe que pode ser, sonha ser a líder que o pai lhe disse que podia ser se fosse destemida, justa e verdadeira.”
Zegler também não guardou palavras simpáticas para a figura do príncipe. “O filme original saiu em 1937 e isso torna-se bem evidente. Há um enorme foco numa história de amor com um tipo que a persegue, literalmente. Algo super estranho, por isso, não o fizemos neste filme. A nossa abordagem é diferente. Acredito que a maioria das pessoas vai assumir que se trata de uma história de amor, apenas porque colocámos um príncipe no elenco.”
Um dos maiores críticos desta nova opção é David Hand, filho do ilustrador do filme de 1937. “Mudam as histórias, mudam os processos de raciocínio das personagens, ao ponto de já não serem as histórias originais. Inventam estas coisas woke e eu não gosto nada disso”, conclui. “É um conceito diferente, não faz sentido. Sei que o meu pai e o Walt [Disney] também não gostariam. Não há qualquer respeito pelo trabalho deles. Acho que estarão neste momento a dar voltas no caixão.”