O artista João Abel Manta, hoje com 86 anos, marcou a vida jornalística no pré e no pós-25 de Abril. Passou pela Escola de Belas Artes de Lisboa a meio da década de 40 do século XX, onde desde logo cruzou o talento para o desenho às convicções políticas de oposição ao Estado Novo e a Salazar. Cresceu na zona de Oeiras, passou pela prisão de Caxias e tornou-se numa importante figura a nível nacional com as suas ilustrações e cartoons.
No âmbito do cinquentenário do 25 de Abril, o artista é homenageado com a exposição “João Abel Manta livre”, que pretende “celebrar a liberdade reconquistada pelos portugueses, mas também lembrar os muitos modos em que o artista conseguiu manter-se livre e independente, não apenas durante os anos anteriores à revolução, como durante e depois”, refere o Município de Oeiras.
A mostra foi inaugurada no passado dia 5 de abril, no Palácio Anjos, em Algés. Ao longo das várias salas do espaço, o público terá acesso, pela primeira vez, ao arquivo pessoal do artista que permitiu agora, por exemplo, a exposição de alguns desenhos feitos durante a sua estadia na prisão de Caxias, em 1948.
O trabalho multidisciplinar de João Abel Manta engloba pintura, desenho, cartoon, ilustração, design gráfico, conceção de painéis de azulejos e tapeçarias, cenografia e figurinos para teatro. Todas estas vertentes artísticas estão presentes na exposição, apontada pela organização como a mais abrangente mostra da sua arte, até hoje.
O conjunto de obras presentes conta com empréstimos de instituições como o Museu de Lisboa e o Museu do Chiado, assim como de colecionadores particulares, como os herdeiros de Vasco Gonçalves (a quem o artista ofereceu maquetas de cartazes, que aqui serão expostas pela primeira vez) ou os designers gráficos Jorge Silva e José Brandão. Está também exposto o inédito painel composto por Mariana Manta Aires, uma das netas do artista, com azulejos do mural da Avenida Calouste Gulbenkian, concebido por João Abel Manta em 1972.
“A exposição ‘João Abel Manta livre’ será mais um ponto na afirmação da memória de uma longa e brilhante carreira, a de um artista sem cujo trabalho alguns dos anos mais importantes do último século português perderiam parte da sua identidade e seriam mesmo incompreensíveis”, refere o município.
Os seus cartoons tornaram-se autênticos marcos culturais, com caricaturas e mensagens subjacentes, com um cunho interventivo, nunca esquecendo o poder estético. Foi uma das armas com que lutou contra o regime ditatorial.
A inauguração da mostra contou com a presença do presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, do vice-presidente, Francisco Rocha Gonçalves, assim como do curador, Pedro Piedade Marques, da neta do artista, Mariana Manta Aires, e de Jorge Silva, responsável pelo design gráfico e expositivo.
Já que a mostra está inserida nas celebrações do 25 de Abril, irá manter-se de portas abertas ao público até 20 de dezembro de 2024. Poderá visitá-la de terça a domingo, das 11 às 18 horas. Normalmente, está encerrada aos feriados, porém, no dia 25 de abril, estará aberta, com entrada gratuita. Nos restantes dias, o bilhete custa 2€. Pode adquiri-lo à entrada do Palácio Anjos.
