“Mulheres, às Armas”, a nova minissérie da TVI, passa-se nos anos 70, mas os temas que aborda continuam bastante atuais. “Recentemente temos assistido a alguns retrocessos”, conta Filipa Martins, criadora e argumentista da produção. Destaca sobretudo “o uso do corpo da mulher como se fosse um território de batalha, o assédio moral e sexual no trabalho, a luta feminina e a desigualdade entre sexos”.
A série estreia esta sexta-feira, 11 de abril, pelas 22h15, e acompanha quatro mulheres que trabalham numa fábrica têxtil, onde acabam por desenvolver uma amizade. À primeira vista, são todas completamente diferentes umas das outras. Adília (Sílvia Chiola) é uma jovem energética, quase analfabeta, que decide ficar em Portugal quando o namorado a desafia a fugir, numa altura de tensões cada vez maiores.
Deolinda (Madalena Almeida), por sua vez, acredita que a educação é o caminho para a evolução social e deseja “aventurar-se em novos voos”, descreve a cineasta. Já Lurdes (Sara Carinhas) é uma mulher politizada e sindicalizada, que incentiva as colegas a lutarem pelos seus direitos e a reivindicarem igualdade salarial. “Tal como todas, ela é contra a guerra do Ultramar”, conflito que está bastante presente na narrativa.
Isabel (Victoria Guerra) é uma antiga mulher da alta sociedade que se vê “amputada” após a morte do marido na guerra e pela ditadura do Estado Novo. Não pode preencher um cheque, não tem acesso à conta bancária e é obrigada a voltar ao mercado de trabalho. Na fábrica, as quatro mulheres desabafam, riem, choram — e juntas protagonizam “um retrato do País no início dos anos 70”.
Apesar de serem personagens fictícias, são inspiradas em centenas de histórias de mulheres anónimas que nunca foram contadas. “A guerra, por norma, é contada a partir da perspetiva de quem foi para a linha da frente, mas as mulheres tiveram um papel preponderante para levar ao final do conflito e, em última instância, à queda do Estado Novo.”
Filipa Martins reconhece que a Revolução dos Cravos foi feita pelos capitães de Abril, mas relembra que esses homens “foram impulsionados pelas mulheres das suas vidas”, desde mães a filhas. A história decorre pouco antes do 25 de Abril, mas o objetivo da série nunca foi celebrar apenas o Dia da Liberdade. “Mulheres, às Armas” quer mostrar que essa data foi apenas “o início de um caminho de luta, principalmente pelos direitos humanos”.
O conceito começou nas mãos de Cristina Ferreira, que queria produzir uma série sobre o lado feminino da guerra colonial, centrada nas mulheres que ficaram em terra enquanto os homens lutavam. “Ela leu cartas trocadas entre uma mãe e o marido que foi lutar para a guerra, e isso serviu como ponto de partida.”
Cristina já conhecia o trabalho de Filipa Martins, que tem no currículo projetos para vários canais generalistas. Entre eles estão o filme e a série sobre as Doce e “Cândido: O Espião que Veio do Futebol”.
“Este foi, naturalmente, um projeto que me agradou desde o início porque ia ao encontro daquilo que já tinha abordado noutros trabalhos. Foi um sim imediato”, explicou a argumentista, que teve liberdade total durante o processo criativo. “Eles não vetaram ou sugeriram algum tipo de enredo específico para contar esta história.”
Mesmo com apenas três episódios, garante que todas as histórias são bem desenvolvidas e que a narrativa avança num ritmo intenso, com momentos de introspeção, tristeza e cansaço pelo meio. “Mas nunca temos momentos de tédio”, sublinha. “Este galopar para o 25 de Abril e para a resolução de todos os conflitos torna a série viciante. Acho que nos vai emocionar e pôr a pensar.”
O elenco conta ainda com participações especiais de José Condessa, Dalila Carmo e Fernanda Serrano. A realização ficou a cargo de Patrícia Sequeira, responsável por “Rabo de Peixe”.
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