The Weeknd trouxe a “The Idol” o seu star power. Na realização, um dos responsáveis de “Euphoria”, Sam Levinson, que emprestou a credibilidade necessária à série. De outro lado, Lily-Rose Depp — filha de Johnny Depp e Vanessa Paradis —, completou o trio de nomes que colocam a produção da HBO como uma das mais aguardadas do ano.
A expetativa elevou, claro, a fasquia e o risco. E a estreia de “The Idol” durante o Festival Internacional de Cinema de Cannes — naturalmente fora de competição — até parecia ter garantido a fuga a um completo desastre, como o elenco a receber a tradicional ovação em pé de cinco minutos. Uma duração tida como mediana no que toca à escala de Cannes. O pior veio depois.
Assim que as primeiras impressões dos críticos começaram a chegar à Internet, percebeu-se que “The Idol” iria ter uma vida muito complicada até à sua estreia, agendada para 4 de junho. Só então poderiam os telespectadores dar o seu veredito, mas pelo que se vê, a produção pode tornar-se mesmo num dos maiores fiascos dos últimos tempos da prestigiada HBO.
O thriller tem lugar no meio da indústria musical, onde Lily-Rose é Jocelyn, uma estrela pop mundialmente famosa, mas que acaba por se enredar numa espiral obsessiva e depressiva depois da morte da mãe. O seu afastamento obriga-a a pensar numa estratégia para revitalizar a sua carreira e é nesse momento que acaba por conhecer Tedros (The Weeknd), um misterioso e carismático dono de um clube noturno.
Os dois envolvem-se numa relação bizarra e Tedros ganha uma preponderância preocupante na vida e na carreira de Jocelyn. Mas à medida que vão trabalhando juntos, o passado sórdido de Tedros ameaça tornar tudo num pesadelo ainda maior — ou numa ascensão apoteótica ao topo do mundo.
Até a produção da série tem sido marcada por momentos pouco ortodoxos. No início de 2022, o elenco foi remendado após a saída de alguns nomes e toda a produção foi repensada. Meses mais tarde, já com a série quase toda filmada, saiu a realizadora Amy Seimetz. Após uma revisão criativa total, Levinson tomou as rédeas e assumiu o papel de criador e realizador.
Muitas das cenas tiveram que ser filmadas novamente, segundo uma outra visão criativa. Tudo isto obrigou a uma despesa extraordinária da HBO para acompanhar o orçamento. Estima-se que a HBO não pretendia gastar mais de 56 milhões, mas terá acabado por gastar mais de 70.
Além disso, um artigo da “Rolling Stone” citou várias fontes anónimas que trabalharam no projeto e criticaram duramente as condições de trabalho. Com dedo apontado a Levinson, descreveram “The Idol” como um “shit show”, um desastre total.
Antes de ser espreitado em Cannes, já muitos rumores apontavam a série à polémica, com muitas (e arriscadas) cenas de sexo. “Sabemos que estamos a fazer uma série que é provocatória. Temos essa noção, mas não é nada de completamente estranho. Quando a minha mulher me leu o artigo [sobre as cenas], disse-lhe: ‘Acho que estamos prestes a lançar a grande série do verão’.”, explicou Levinson em Cannes.
Sobre a necessidade de voltar atrás e filmar novamente muitas das cenas, The Weeknd recusa quaisquer justificações. “Percebi que tinha de ter a certeza que fiz a melhor versão daquilo que queria fazer. Refazer quase tudo foi um desafio, sacrifiquei a minha saúde para pôr tudo a funcionar”, nota. “Mas digamos que a série sai e é horrível. Ainda assim, sei que dei o meu melhor. Do que vi, a série é espetacular. Tudo é um risco: quando dás o teu melhor, só posso considerar que é um final feliz.”
The Weeknd poderá ter acertado em cheio no que toca ao que viria a acontecer. “‘The Idol’ ou ‘As 50 Sombras de Tesfaye [nome real de The Weeknd]: É uma odisseia pela página principal do Pornhub e tem como estrelas as aréolas de Lily-Rose Depp e o cabelo seboso de The Weeknd.”
“Grotesco, bruto, dá a sensação de ser muito mais longo do que é — e muito pior do que se poderia esperar”, atirou o crítico da “Rolling Stone”. “Por toda a vitalidade de Depp, falta sensualidade à série. Pelo contrário: emana sujidade, regozija na tortura [da personagem].”
“É apenas a extensão da errada autoconfiança de uma estrela da música que acha que pode ser uma estrela de cinema”, atira o crítico da “The Playlist”. “Resumindo: é grosseiro, repugnante e sexista.”
Com apenas 26 por cento no agregador de críticas Rotten Tomatoes, seria necessária uma grande reviravolta para que “The Idol” contrarie os críticos e se torne num daqueles raros fenómenos de total desencontro entre especialistas e público. É que a lista de adjetivos é impiedosa: vulgar, desinspirada, manipuladora, sinistra, enjoativa. É ver para crer.