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Galeria na Montra tem uma nova exposição para refletir “de que cor é o azul”

A mostra "Kyaneos, de que cor é o azul", da artista plástica Anabela Mota, está aberta ao público até 18 de março, em Caxias.
Anabela Mota é uma artista do concelho.

É a cor do mar e do céu ou, pelo menos, é dessa forma que a ensinamos aos miúdos e que aprendemos a caracterizá-la. Mas nem sempre foi assim e o nome dado a esta cor é mais recente do que possa pensar. Na realidade, tudo está relacionado com uma questão de percepção e é precisamente esse o conceito da nova exposição da artista plástica Anabela Mota, inaugurada no passado sábado, 18 de fevereiro. “Aqui apresento a percepção sobre aquilo que, para mim, é o azul”, conta à NiO. 

As obras presentes nas paredes da Galeria na Montra, em Caxias, embalam os visitantes numa onda composta por vários tons de azul. “Todos estes trabalhos foram feitos na mesma altura. Às vezes trabalho com um ponto de partida mas, neste caso, foi ao contrário, as obras é que me indicaram o título porque na verdade elas surgiram todas em tons de azul. Daí o nome ‘Kyaneos, de que cor é o azul'”, afirma Anabela. 

Este conceito, “kyaneos”, acabou por chegar quando a artista decidiu explorar os significados do azul e aprofundar o seu conhecimento sobre esta cor, tão presente na sua arte. “Achei muito curioso quando descobri que, por exemplo, na Grécia Antiga não havia a designação de azul, até mesmo na ‘Odisseia’ de Homero. Ele fez uma viagem, atravessou o oceano, e nunca usou a palavra azul para nomear o mar ou o céu, ou seja, percebemos que na Grécia Antiga não existia a palavra porque não havia a necessidade de nomear algo que tinha aquela cor. E o facto de isso só ter mudado no século XIX ainda é mais incrível”, refere. 

A artista Sara Belo, colega de Anabela Mota no coletivo Humor Líquido, escreveu um texto de apresentação da mostra onde reflete sobre esta questão. “Apenas a custo podemos traduzir por azul-escuro a palavra ‘kyaneos’, que nos chega da antiguidade grega e da qual deriva a palavra ‘ciano’, que nomeia a tonalidade de azul que constitui uma das três cores primárias subtrativas. A dificuldade de tradução deve-se ao facto de que ‘kyaneos’ também servia para designar tonalidades de negro e cinza, podendo descrever tanto o fundo do mar, como uma cabeleira negra ou nuvens carregadas de chuva.” 

E continua: “Surpreendentemente, à exceção dos egípcios, os povos da antiguidade não tinham uma palavra para nomear o intervalo do espectro visível a que damos o nome de azul. Quando esta ausência foi notada pela primeira vez, no século XIX, chegou-se a acreditar que a capacidade de ver o azul fosse uma aquisição recente do nosso sistema nervoso.”

E a cor azul democratizou-se. “Como foi que surgiu, entretanto, a necessidade de o convocar? Ocorre-me um pensamento: que os historiadores tenham associado o aparecimento e a vulgarização da noção de azul aos avanços tecnológicos que possibilitaram o fabrico, extremamente complexo, dos pigmentos azuis, seria insuficiente para explicar o aparecimento do azul, não houvesse, da parte dos pintores, um intenso desejo de dar a ver esta cor. E pergunto-me, pode um pintor chamar uma nova cor à existência?”, questiona Sara Belo. 

O que vê na pintura?

Voltamos à conversa com Anabela Mota que remata o tema com esta ideia: “Tudo é uma questão de percepção e neste caso até o azul. É esta a relação que une todas as obras aqui expostas. É interessante perceber que para nós é um dado adquirido, porque todos convencionámos que o mar e o céu são azuis e isso também me interessa muito. As palavras surgiram porque houve uma necessidade de nomear coisas ou objetos importantes de se comunicar, e até uma dada altura, o azul não tinha esse impacto”. 

A partir desta premissa, cada visitante irá percepcionar as obras, os tons de azul em cada uma, de acordo com a sua vivência, experiências, formas de ver a própria cor. “Um dos quadros tem a ver com a questão da noite. Quando começa a anoitecer, que cor é que nós vemos? O que é aquele negro? É azul?”, questiona a artista, deixando a resposta em aberto. 

Esta é a primeira mostra de Anabela Mota na Galeria da Montra, mas a artista plástica já viu, ao longo dos anos, o seu trabalho exposto em outros espaços do concelho de Oeiras, nomeadamente no Palácio dos Aciprestes e outros locais em Linda-a-Velha, onde, aliás, mora. “É muito importante poder mostrar o meu trabalho no concelho onde vivo”, afirma à New in Oeiras. Já participou também em exposições coletivas e individuais noutros locais do País e até além-fronteiras. 

Pode visitar “Kyaneos, de que cor é o azul” até 18 de março. O horário é de terça a quinta-feira entre as 14 e as 19 horas, e sexta-feira das 14 às 20 horas. Caso queira visitar a exposição fora destes horários, o ideal é marcar, com antecedência, através dos contatos da Galeria na Montra. 

Ao todo, são já 17 as exposições que passaram por aquela sala, desde que abriu em 2020. Ali a arte contemporânea ganha vida, num casamento perfeito entre o moderno e o tradicional, presente na arquitetura do próprio espaço. A verdade é que esta galeria, que nasceu na montra e se espalhou pelas quatro paredes (conheça toda a história neste artigo) começou por conquistar os moradores da zona e rapidamente atraiu outros curiosos.

“Nas inaugurações das mostras, a rua transforma-se. Há animação, cria-se um espaço de convívio. Tinha medo do barulho por causa dos vizinhos, fui falar com eles e, para minha surpresa, agradeceram imenso, dizem que finalmente a rua voltou a ter vida”, conta à NiO Silvia Perloiro, responsável pela Galeria na Montra. Para a também artista plástica é importante viver as cidades e os seus espaços culturais em pleno. “Acho importante haver estes encontros na rua, nós temos um clima fantástico, esta zona é lindíssima, temos o jardim de Caxias aqui ao lado e a praia muito perto”, sublinha. 

Siga o conselho e vá até à Galeria na Montra visitar esta exposição. O espaço fica no número 6 da Av. Conselheiro Ferreira Lobo, em Caxias. Pode seguir também a galeria no Facebook e Instagram para ficar a par das novidades. 

Visite a mostra até 18 de março.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Av. Cons. Ferreira Lobo 6
    2760-030 Caxias
  • HORÁRIO
  • Terça a sexta das 14h às 20h

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