Desde pequeno que Francisco Borges gosta de passar as tardes a jogar futebol. No entanto, foi durante uma partida com os amigos, em maio, que acabou por sofrer uma lesão que o deixou em repouso obrigatório. “Fizeram-me uma rasteira e quando caí bati numa rampa e parti a tíbia e o perónio”, conta à NiT o jovem de 12 anos.
Como era um rapaz que passava os dias fora de casa, confessa que “está a ser difícil ficar parado”. Felizmente, nunca está sozinho, visto que tem sempre a sua companhia favorita: os livros. Por vezes, chega a ler dez obras por dia.
Embora a maior parte sejam livros destinados ao público infantil, Francisco também lê títulos em que muitos adultos não se atrevem a pegar, como “Morte Encenada”, de Agatha Christie, e “O Silmarillion”, de J.R.R. Tolkien. No fundo, não discrimina nenhum tipo de livros, embora os seus favoritos sejam os policiais e os que contam a história de grandes aventuras. “Gosto de livros excitantes”.
Quando precisa de algo mais leve, não foge aos clássicos como a saga “Avozinha Gangster” e “Doutora Tiradentes”, que recomenda a todos os seus amigos. Ambos os textos foram escritos por David Walliams, jurado do “Britain’s Got Talent” e que é também o autor favorito de Francisco Borges, ao lado de Jamie Smart.
A paixão pela literatura surgiu quando tinha cerca de dois anos e a mãe, Carla Varela, uma advogada, lhe lia os livros à noite, antes de dormir. O miúdo adorava ficar a olhar para imagens, como se estivesse a mergulhar naqueles mundos fictícios. “Sentia-me muito feliz porque imaginava que estava dentro destas histórias”, recorda. Os livros da Disney inspirados nos grandes clássicos do cinema eram os seus favoritos.
Desde então que este fascínio não saiu da sua vida. Tanto é assim que hoje em dia gere mais do que uma leitura ao mesmo tempo. “Às vezes demoro mais de um dia porque os livros são grandes, mas vou intercalando com outros mais rápidos, como a saga ‘Demon Slayer’”, comenta.
Na semana passada, por exemplo, conseguiu ler sete livros. Sente que foi isso que também o ajudou a recuperar da lesão traumática. “Ler ajuda a curar o corpo e a alma”, explica à NiT.
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Os livros também podem ser uma forma de dar palco aos grandes problemas atuais na sociedade. Um dos romances que mais o deixaram a pensar foi “O Tesouro”, de Selma Lagerlöf. “Um dos protagonistas era ganancioso e provocou a morte dos amigos para ficar com o tesouro, mas depois acabou por ser envenenado”, resume Francisco Borges.
As obras que lê diariamente chegam da Biblioteca de Carnaxide, que já é quase como uma segunda casa para o rapaz. “Vou lá todos os sábados para encontrar o que vou ler durante a semana.”
Muitos dos livros são escolhidos por si, mas há outros que fazem parte do Plano Nacional de Leitura. Francisco Borges está no sétimo ano da escola, mas já sabe que a passagem para o oitavo está garantida. Espera que no novo ano letivo mudem alguns dos problemas que identificou no ensino em Portugal, como o facto de “os professores não aceitarem as opiniões dos alunos”.
O jovem natural de Oeiras também acredita que as escolas deveriam deixar os estudantes serem mais criativos e, acima de tudo, pararem de debitar a matéria. “Às vezes, estão só a escrever e a escrever e não perguntam nada aos alunos. Isso acaba por estragar a magia”, lamenta o rapaz, cujas disciplinas favoritas são História e, claro, Educação Física — antes da lesão praticava futebol e kickboxing.
Francisco tem uma conta no Instagram para partilhar esta paixão pelos livros com os seus mais de 1.100 seguidores. Esta plataforma permitiu-lhe conhecer algumas personalidades portuguesas que admira, como a deputada Eva Cruzeiro, do Partido Socialista.
Na verdade, foram juntos à Feira do Livro de Lisboa a 9 de junho e Francisco saiu de lá com cinco obras novas. Poucas horas depois, já tinha lido três das novidades. Revelar quantos livros já leu este ano, porém, é mais difícil. “São tantos que nem sei”.