Viver exclusivamente da arte é uma meta ambicionada por muitos, mas nem todos a conseguem atingir. Muitas pessoas optam por explorar a sua vertente criativa como um hobby, em paralelo com o seu trabalho “normal”, em espaços como ateliers ou escolas. No entanto, a história de Maria Flores é um pouco diferente: “Hoje sou artista, exponho e dou aulas”, afirma.
Nascida em Lisboa, em 1979, Maria sempre se definiu como uma artista. Desde cedo, tinha a certeza do seu caminho: “Nunca precisei fazer aqueles testes para saber o que estudar ou que caminho seguir, nem me questionava. Era e sempre quis ser artista, apercebi-me disso muito nova, na primária, por exemplo, já fazia os cartazes das festas para afixar nas paredes da escola”, conta à NiO.
Com o percurso bem definido e a vontade de ser um espírito livre, Maria não hesitou em seguir o seu sonho. Em 2004, licenciou-se em pintura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. “Felizmente, os meus pais deixaram-me estudar o que queria, mas para os tranquilizar um bocadinho disse-lhes que ia ser professora”, afirma, a sorrir.
Após a conclusão do curso, Maria trabalhou durante 15 anos na área da impressão, dividindo o seu tempo entre essa atividade e a sua carreira artística independente. Também participou em diversas exposições nas Galerias de Arte do Casino Estoril, onde chegou a conquistar alguns prémios, incluindo o Salão de Primavera.
Mais tarde, começou a dar aulas no Restelo, numa galeria de um artista amigo, permanecendo como professora durante cerca de dois anos e meio. Em 2021, arriscou abrir a sua própria galeria de arte, situada na Ajuda. Contudo, o espaço “muito pequeno” não era o ideal. Em 2022, Maria levar o projeto para um local maior, em Carnaxide, onde ficou quase três anos.
Entre amigos, artistas conhecidos e alunos com vontade de aprender mais sobre o mundo artístico, os ateliers dinamizados por Maria na nova morada foram um sucesso. “Gosto de dizer que somos uma comunidade de artistas, tenho pessoas que estão comigo desde o atelier da Ajuda e me seguem nestes projetos.”
Com o aumento do número de participantes nas suas aulas, surgiu a oportunidade de se mudar para um espaço ainda maior, em Linda-a-Velha. “Esta oportunidade apareceu de repente, foi um acaso, mas era exatamente aquilo de que precisava. Aqui tenho um sítio para expor trabalhos, a galeria, e outro mais específico para dar as aulas”, explica Maria.
O Espaço Criativo, inaugurado a 29 de março, em Oeiras, é um atelier onde todos, com ou sem formação, podem explorar as suas capacidades artísticas sem medo do erro e com vontade de aprender.

“Não gosto de lhe chamar escola, é um atelier onde cada aluno desenvolve o seu projeto, ao seu ritmo. A frequência é livre e cada um pode explorar uma diversidade de estilos e trabalhos sem qualquer pressão ou avaliação, num ambiente descontraído e informal”, conta Maria.
O espaço oferece duas “disciplinas”: pintura a óleo, lecionada pela própria artista, e desenho, explorada por outro professor. Cada turma é composta por 10 alunos e, atualmente, o atelier conta com cinco turmas de pintura a óleo e duas de desenho. As aulas são semanais e os alunos podem gerir os seus horários.
Com uma área maior para explorar outras atividades, Maria Flores conta que o objetivo é expor obras e incentivar também os seus alunos. “Na galeria organizamos exposições com trabalhos de outros artistas, mas a ideia é também desafiar alguns alunos que têm boas capacidades, para mostrar trabalhos deles ao longo do ano.”
A prova de que nunca é tarde para se explorar novos talentos é a média de idades de quem frequenta as aulas. Destinadas maioritariamente a adultos, as formações têm pessoas de várias idades e até graus de parentesco. “A maioria está na faixa dos 40 e poucos anos, mas tenho duas jovens de 14 anos e dois alunos de 76. Outra coisa engraçada é que tenho também mães e filhos, e até cunhados.”
Carregue na galeria para ver mais imagens do novo Espaço Criativo, em Oeiras.