O projeto “Redescobrir Alfred Hitchcock”, que começou em janeiro deste ano, foi criado para dar continuidade às sessões de grandes clássicos do cinema, no Auditório Municipal César Batalha, em Oeiras, inicialmente idealizadas pelo cineasta Lauro António. As masterclasses de história do cinema começaram em 2018, com um conjunto de obras intitulado “Filmes que eu amo”, onde Lauro António apresentou 60 películas que o marcaram ao longo da vida.
O sucesso da iniciativa fê-la continuar pelos anos seguintes, apenas com uma pequena interrupção em 2020 devida à pandemia. Foram exibidos dezenas de filmes que o também professor, crítico, ensaísta e dinamizador cultural considerava serem essenciais para qualquer cinéfilo.
Para 2022, Lauro António decidiu preparar algo diferente e criou uma lista apenas com títulos dos anos 80. Após a sua morte, em fevereiro desse ano, o município de Oeiras decidiu dar continuidade ao projeto, como tributo à carreira do cineasta e homenagem a tudo o que representou para a cultura em Portugal.
Assim, os fãs de cinema puderam continuar a assistir, semanalmente, e de forma gratuita, a filmes que talvez nunca tenham tido a oportunidade de ver num grande ecrã, ou que nunca tinham visto de todo. Há realmente obras cinematográficas que merecem ser vistas em todo o seu esplendor e é isso que é proporcionado ao público nas Galerias Alto da Barra, em Oeiras.
Para 2023, o grande protagonista destas sessões é Alfred Hitchcock, já que ao longo de todo o ano, serão exibidos apenas filmes do realizador britânico, o que permitirá ao público conhecer a fundo a obra cinematográfica daquele que é considerado o mestre do suspense. Mesmo ausente, Lauro António surpreende os fãs, pois já tinha deixado esta ideia delineada antes da sua morte. “Curiosamente o meu pai tinha deixado preparada esta masterclass sobre Hitchcock, de forma a que a sua obra pudesse ser vista praticamente na íntegra”, conta Frederico Corado, filho do cineasta.
“Continuamos, portanto, aqui com o trabalho que o meu pai construiu desde sempre, o de mostrar bom cinema e quem o faz. Ver, falar e escrever sobre cinema foi no que o meu pai trabalhou a vida toda, nós vamos tentar continuar esse trabalho e que melhor forma para o fazer que com aquele que foi um dos grandes realizadores da história do cinema”, conclui o encenador.
Hitchcock, que nasceu em 1899 no Reino Unido e faleceu em 1980 nos Estados Unidos da América, foi eleito pelo “The Telegraph” como o maior realizador da história da Grã-Bretanha e, pela Entertainment Weekly, como o maior do cinema mundial.
“De dez em dez anos a revista ‘Sight & Sound’ organiza um inquérito entre críticos de cinema, de onde sai uma lista com os 100 melhores filmes de sempre. Durante os últimos dez anos, até dezembro de 2022, ‘A Mulher Que Viveu Duas Vezes’, de Alfred Hitchcock, estava em primeiro lugar dessa lista, tendo ultrapassado ‘O Mundo a Seus Pés’, de Orson Welles, que se tinha mantido no primeiro lugar durante uns 50 anos”, afirma Frederico Corado.
“Ainda na lista dos 100 estão ‘Psico’ em 31.º lugar, ‘Janela Indiscreta’ em 38.º e ‘Intriga Internacional’ em 45.º, fazendo de Alfred Hitchcock um dos realizadores mais mencionados nessa lista”, sublinha Frederico, que deixa ainda uma reflexão sobre a forma como se olha para o conjunto da obra do realizador: “Ao analisar globalmente a sua obra não se deve ficar com a ideia de que Hitchcock era um mero realizador de divertimentos macabros que empolgaram as plateias de todo o mundo. A sua filmografia é das que maior coerência oferece em toda a história do cinema”.
“Era um homem de convicções fortes, de obsessões firmes, de temática constante, de um rigor formal e estilístico que assombram. Ainda hoje a maioria dos seus filmes não se deixou corromper por uma ruga, não envelheceu um minuto e mantém uma modernidade de olhar e de construção que espantam”, conclui.
Em fevereiro serão exibidas quatro obras do início da sua carreira, estreadas entre os anos 1928 e 1929. Nesta lista inclui-se “Chantagem”, o primeiro filme de Hitchcock com som. Conheça a programação.
7 fevereiro
“A Mulher do Lavrador” (‘The Farmers Wife”) de 1928, com Jameson Thomas, Lilian Hall-Davis e Gordon Harker.
14 fevereiro
“Champagne” (“Champagne”) de 1928, com Betty Balfour, Jean Bradin, Ferdinand von Alten e Gordon Harker.
21 fevereiro
“Chantagem” (“Blackmail”) de 1929, com Anny Ondra, Sara Allgood, Charles Paton.
28 fevereiro
“Pobre Pete!” (“The Manxman’”) de 1929, com Carl Brisson, Malcolm Keen, Anny Ondra.
As sessões vão decorrer todas as terças-feiras, dias 7, 14, 21 e 28 de fevereiro, às 16 horas. A entrada é gratuita, mas é necessário levantar uma senha meia hora antes do início de cada sessão, limitada aos lugares disponíveis.
O Auditório Municipal Maestro César Batalha situa-se nas Galerias do Alto da Barra, em Avenida das Descobertas, nº 59, Oeiras. Se tiver dúvidas ou quiser obter mais informações, saiba que pode fazê-lo através do email carlos.pinto@nulloeiras.pt ou do número de telefone 214 408 565.