No final de 1984, Rick Allen tinha apenas 21 anos. Apesar de jovem, sabia bem o caminho que queria seguir. A música era uma paixão e a bateria, um grande amor. Aos 15 anos, depois de uma audição que revelou o seu talento, conseguiu integrar uma banda de hard rock, que começava a fazer sucesso e a conquistar cada vez mais público. Até que um terrível acidente de viação trouxe uma notícia devastadora: Rick tinha sobrevivido, mas perdeu o braço esquerdo.
O sonho de fazer carreira como baterista pareceu-lhe condenado ao fracasso. Era o fim da linha. Mas, contra todas as expectativas, 40 anos depois continua a viajar o mundo na companhia de tambores, pratos e baquetas. Como? Com força de vontade e uma bateria pioneira.
Richard John Cyril Allen, mais conhecido como Rick Allen, nasceu a 1 de novembro de 1963, no Reino Unido. Em 1978, ainda na adolescência, com apenas 15 anos, chamou a atenção, pela sua técnica, numa audição para baterista de uma banda que tinha nascido no ano anterior e estava prestes a assinar um contrato com uma produtora. Chamava-se Def Leppard e, sem saber, iria mudar a vida de Rick para sempre.
Na verdade, o grupo começou por chamar-se Atomic Mass, criado pelo baixista Rick Savage, pelo guitarrista Pete Willis e pelo baterista Tony Kenning. A eles juntou-se Joe Elliot, que se mantém como vocalista da banda até hoje. Acabam por mudar o nome para “Deaf Leopard” (que, traduzido literalmente, significa “leopardo surdo”), mas por sugestão de Tony Kenning alteram para Def Leppard. O baterista acaba por deixar a banda e é substituído por Frank Noon, que também não dura muito tempo. É nessa altura que o jovem Rick Allen entra em cena.
O primeiro EP dos Def Leppard é lançado em janeiro de 1979 e ganham destaque como uma das bandas da New Wave of British Metal. O primeiro álbum de estúdio chegaria no ano seguinte. “On Through The Night” alcança o top 15 da UK Album Charts e a jovem banda começa a abrir concertos para nomes como os AC/DC. Em 1981 é lançado o álbum “High n’ Dry”, do qual faz parte a música “Bringin’ on the Heartbreak”, que se tornou na primeira balada de heavy metal a tocar na MTV.
Nessa época, o guitarrista Pete Willis sai da banda, por problemas ligados ao álcool. É entretanto substituído por Phill Collen, com quem o grupo grava o álbum “Pyromania”, lançado em 1983, que alcança o segundo lugar na Billboard 200 e reforça os Def Leppard como uma banda mundialmente conhecida. O primeiro single do disco, “Photograph”, destronou “Beat It” de Michael Jackson como a música mais pedida na MTV e tornou-se um hit nas rádios norte-americanas. Tudo parecia correr bem para os Def Leppard, que viviam a ascenção musical que sempre sonharam, principalmente nos Estados Unidos da América.

Tudo corria bem até que, no último dia de 1984, chega a terrível notícia: Rick Allen tinha sofrido um grave acidente de carro, após tentar ultrapassar outro veículo a alta velocidade, numa espécie de disputa. Acaba por perder o controlo do veículo numa curva, capota várias vezes e bate numa parede. Os médicos tentaram reverter a situação, mas após uma infeção grave, não havia volta a dar: Rick ficaria sem o braço esquerdo.
O impacto da notícia foi devastador tanto para o jovem e a sua família, como para a banda. Mas o que poderia ser o fim para muitos, foi um novo começo para Allen. Passado o choque inicial, Rick estava determinado em continuar a tocar bateria. “Eu consigo, se vocês me derem a oportunidade de o fazer”, garantia o jovem aos colegas que, numa entrevista, mais tarde, revelaram nunca pensar substituí-lo, porque “a bateria é o que ele é”.
O próprio Rick, numa entrevista na época, garante que, mal começou a recuperar do acidente, decidiu voltar a praticar e fê-lo inclusive quando ainda estava numa cadeira de rodas. Teve que reaprender a tocar. A solução: adaptar o instrumento à sua nova condição. O kit de bateria adotado por Allen permitia a possibilidade de tocar sem o braço esquerdo, combinando uma série de elementos acústicos e eletrónicos. Neste vídeo, Rick explica que a grande aposta foi acrescentar pedais mais modernos e dinâmicos, que conseguiam fazer os mesmos sons que os pratos, numa tentativa de substituir o trabalho que faria o braço esquerdo.
A peça, feita especialmente para Allen, foi desenvolvida pela empresa Simmons Drums, especializada em baterias elétricas que, ao longo dos anos, foi sofrendo pequenas adaptações. A diferença para as baterias tradicionais é que esta tem, no chão, um sistema de pedal triplo que o músico utiliza, pisando com o pé esquerdo, com a opção de reproduzir os sons que tradicionalmente seriam tocados nos elementos originais do instrumento.
Trata-se de um complexo jogo de combinação em que o tambor da caixa, que marca o ritmo, é golpeado na maior parte do tempo com a mão direita — não com a esquerda, como faz a maioria dos bateristas. “É como fazer batota, mas estou a adorar tocar assim”, garantia o jovem, na altura. Mais tarde, o vocalista da banda, Joe Elliot, chegou a afirmar que Rick se tornou “um baterista melhor do que quando tinha dois braços”. Na época, entre os diversos concertos que cancelaram dada a situação, estava o da primeira edição do Rock in Rio, no Brasil, em 1985, país onde tocaram o ano passado.

A solução pioneira e a força de vontade de Rick tornaram-se uma verdadeira inspiração, até aos dias de hoje, sendo considerado um dos maiores exemplos de superação no mundo da música. O jovem Rick Allen acabou por ultrapassar a amputação do braço, precisamente quando a banda entrou na sua fase de maior sucesso comercial.
O quarto álbum, “Hysteria” (nome pensado por Allen, após tudo o que tinha passado) chega em 1987, pondo fim a uma pausa forçada do grupo e tornando-se um fenómeno de sucesso. O disco vendeu mais de 20 milhões de cópias em todo o mundo e a digressão foi bombástica, com centenas de concertos em vários países, nos anos seguintes.
Quando os Def Leppard estavam definitivamente no circuito do estrelato de hard rock mundial, mais uma tragédia abate-se sobre o grupo. O guitarrista Steve Clark morre, aos 31 anos, por problemas relacionados com mistura de drogas e álcool. Para substituí-lo contratam Vivian Campbell, que já tinha tocado com Whitesnake, e assim se chega à formação dos cinco elementos que ainda hoje fazem parte da banda: Phil Collen, Joe Elliott, Rick Savage, Rick Allen e Vivian Campbell.
A partir daí nunca mais pararam e, nos anos 90 e primeira década de 2000, foram lançando vários álbuns. Depois, houve pausas maiores, principalmente após 2013, quando Vivian Campbell anunciou que tinha sido diagnosticado com cancro. Acaba por conseguir ultrapassar a situação e, no ano passado, em 2022, é anunciado um novo álbum, “Diamond Star Halos”, cujo primeiro single se chama “Kick”.
Uma banda marcada por altos e baixos, que nunca desistiu de fazer o que mais gosta, reforçando sempre a confiança no trabalho realizado e com pensamento positivo. “Esta banda vai durar até quando quisermos. Não vamos ser afetados por forças externas. Vai depender de nós e nós saberemos decidir quando terminar”, revelou Joe Elliot numa entrevista recente. Mas parece que o fim, mesmo após mais de 40 anos na estrada, não está assim tão próximo, já que estão neste momento em digressão mundial.

Em março deste ano, um acontecimento inesperado com Rick Allen chega aos títulos dos jornais. O músico tinha sido violentamente agredido à entrada de um hotel na Florida, Estados Unidos da América, onde a banda daria um espetáculo. Rick estaria à porta, a fumar, quando um jovem de 19 anos, o atacou. O baterista acabou por sofrer ferimentos ao cair no chão e bater com a cabeça.
Não se sabe o que motivou o ataque, que feriu também uma mulher, presente no local, que tentou ajudar Allen. O jovem, que também teria partido os vidros de várias viaturas estacionadas no local, foi detido pelas autoridades.
Nas suas redes sociais, Allen acabou por comentar o sucedido: “Obrigada a todos pelo apoio. O vosso amor e orações ajudam muito. Felizmente, a minha mulher Lauren não estava comigo na altura do incidente. Estamos juntos, a trabalhar na recuperação, num espaço seguro. Estamos focados na cura de todos os envolvidos. Pedimos que se juntam a nós num esforço de passar da confusão e do choque para compaixão e empatia. Sabemos que estes atos de violência podem ser um gatilho para muitos. Juntos, com amor, podemos ultrapassar estes tempos difíceis”.
Def Leppard invadem Algés esta sexta-feira
Não foi fácil a trajetória dos Def Leppard, banda britânica que teve o seu auge na década de 1980, mas continua com verdadeiros fãs, um pouco por todo o mundo, 40 anos depois. Esta sexta-feira, 23 de junho, sobem ao palco do Passeio Marítimo de Algés, numa tour conjunta com a banda de metal Mötley Crüe. As duas uniram-se numa grande digressão, que começou nos estádios dos Estados Unidos da América, em 2022. O sucesso de “The Stadium Tour”, ditou que as lendas vivas do rock anunciassem uma tour mundial. Assim, nasceu a “The World Tour”, que tem viajado por vários países da Europa e chega agora a Portugal.
“Depois de finalmente voltar à estrada e ter uma monumental tour de verão nos Estados Unidos e Canadá, estamos muito entusiasmados por levar esta enorme digressão de estádios às principais cidades do mundo e arrancar na Europa, em Sheffield, onde tudo começou há 45 anos”, referiu Joe Elliott, vocalista dos Def Leppard, o ano passado quando a tour foi anunciada.
Ainda há bilhetes disponíveis, que pode comprar online ou nos locais habituais. Para a plateia em pé o bilhete custa 69€ e para a zona do golden circle, perto do palco, o preço sobe para 95€. O pacote VIP tem valores entre os 229€ e os 270€ e o pack hotel, com estadia no Hotel Dom Pedro Lisboa, de cinco estrelas, e pequeno-almoço incluído, fica entre 270€ a 325€.