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Barbra Streisand conta tudo: do romance com Carlos III aos ataques de Marlon Brando

O monarca era obcecado pela atriz e cantora, de tal forma que viajou para Los Angeles só para a conhecer. Aos 81 anos, Streisand conta tudo na nova autobiografia.
O livro foi editado a 7 de novembro.

Já em 2006, uma polémica biografia não-autorizada alegava que Barbra Streisand tinha tido um caso com Carlos III, dois anos após a separação de Diana, em 1994. Falava-se de um suposto jantar romântico, de uma amizade íntima em torno de paixões comuns pela jardinagem e pelo ambiente.

Se nem todos os rumores foram confirmados, pelo menos a amizade e outros detalhes são agora revelados pela própria atriz e cantora na sua autobiografia, “My Name is Barbra”, lançada no passado dia 7 de novembro, nos Estados Unidos da América. Streisand fala sobre a amizade “inesperada” e “extraordinária” com Carlos III.

Além de uma visão sob uma carreira única de seis décadas como cantora, atriz e realizadora, a celebridade de 81 anos expõe histórias de amores passados e arrependimentos. “Uma das razões pelas quais escrevi o livro foi para desfazer alguns mitos que existem a meu respeito”, revelou em entrevista à CBS News.

E no livro há espaço precisamente para detalhar a sua relação de longa data com o “encantador” monarca que conheceu em 1974 no set de “Funny Lady”. Tudo começou com uma aparição surpresa. do então príncipe. nos estúdios de Hollywood, munido apenas da esperança de conhecer a atriz que, segundo a imprensa britânica, era uma fixação sua. Na altura corriam rumores de que Carlos tinha até um poster da cantora nas paredes do palácio.

Embora Streisand não abra completamente o jogo, em 2019 já havia dado a entender que as intenções românticas do monarca eram bem evidentes. “Se eu tivesse feito bem as coisas, podia ter-me tornado na primeira princesa judia.” O encontro correu bem e, apesar de serem duas pessoas “tímidas”, criaram uma nova amizade. “A verdade é que tanto Carlos como eu somos tímidos, mas de alguma forma conseguimos criar uma ligação e isso mostrou ser o início de uma amizade inesperada.”

Reencontraram-se nos bastidores do concerto de Barbra na Wembley Arena em 1994, com Carlos a assistir ao concerto diretamente da Royal Box. No dia seguinte, Barbra recebeu um presente especial do príncipe: um bouquet de flores. “Estava assinado apenas ‘Carlos’. E eram flores frescas do seu jardim. ‘Foi um prazer assistir ao seu concerto. Estava maravilhosa. Adorei cada minuto”, acrescentou o monarca.

As suas relações — as reais e as potenciais — são uma parte integrante da autobiografia. Entre reflexões sobre a sua carreira como cantora, atriz e realizadora, Streisand escreve sobre os seus “amores passados e arrependimentos”. Mas se dependesse de Streisand, que está casada com James Brolin há 25 anos, teria havido muito menos detalhes sobre os seus ex-companheiros no livro — incluindo com Don Johnson, Ryan O’Neal, Andre Agassi e o ex-primeiro-ministro canadiano Pierre Trudeau. “Eu não queria escrever nada sobre nenhum deles, mas o meu editor disse: ‘Tens que deixar algum sangue nas páginas.'”

Streisand fala não só de relacionamentos, mas também do sexismo que enfrentou em palco, sobretudo através de um incidente com Sydney Chaplin — com quem contracenou em “Funny Girl” na Broadway —, filho de Charlie Chaplin. Um episódio que contribuiu para o medo de palco que a impediu de fazer concertos durante 27 anos.

“Não gosto muito de falar sobre isso”, revelou à BBC, antes do lançamento da biografia. “É apenas uma pessoa que teve uma paixoneta por mim e quando lhe disse que não me queria envolver com ele, virou-se contra mim de uma forma extremamente cruel”, refere. “Começou a murmurar coisas horríveis enquanto estávamos em palco. Palavras terríveis. Palavrões. E deixou de me olhar nos olhos. E tu sabes, quando estás a atuar, o quão importante é poder olhar o outro nos olhos, poderes reagir.”

Foi uma experiência que “perturbou” Streisand e que fez com que deixasse as performances ao vivo durante muitos anos. Mas Sydney Chaplin estava longe de ser a única personalidade masculina a ter comportamentos incorretos. “Eu tenho mais talento nos meus peidos do que tu no teu corpo inteiro”, terá gritado Walter Matthay, à frente de toda a equipa de filmagem no set de “Hello, Dolly!”. E Frank Pierson, autor e realizador da versão de 1976 de “A Star is Born”, decidiu vir a público criticar a protagonista do filme, Streisand, acusando-a de ser “controladora” e de estar constantemente a “exigir close-ups”.

Quando não a estavam a insultar, os homens pareciam estar a atirar-se aos seus pés. Omar Sharif, garante Streisand, enviou-lhe dezenas de longas cartas apaixonadas a implorar-lhe que deixasse o marido. Já Marlon Brando foi tudo menos subtil, ao beijá-la de surpresa no pescoço. “Não pode ter um pescoço assim e esperar que ele não seja beijado.”

Durante uma festa em 1966, Brando decidiu agir, mesmo tendo a esposa na sala ao lado. “Ao fim de cerca de três horas de conversa, ele olhou-me nos olhos e disse: ‘Quero foder-te’. Fiquei surpreendida. ‘Isso é horrível’. E depois de pensar por uns momentos, respondeu-me: ‘Ok. Então gostava antes de ir a um museu contigo.” Streisand não se deixou intimidar. “Isso sim, já é romântico. Isso pode ser”, respondeu. “Ele acertou numa fantasia minha: passear num museu com alguém atraente, ver arte, explorar tudo em conjunto. Mas depois lembrei-me da mulher dele: ‘Então e a Tarita? Porque é que casaste com ela?’.”

Brando não se ficou. “Ela é como um pedaço de fruta madura.” “O problema é que percebi exatamente o que ele queria dizer com aquilo. Ela era exuberante, mas seria isso suficiente? Falámos sobre casamento, relacionamentos. Até que ele se sai com uma que me chocou: ‘Acho que não vais ficar muito mais tempo com o Elliott [Gould]’. Fiquei estarrecida e questionei-o. ‘Ele não é suficientemente bonito para ti.” O casal separou-se cinco anos depois.

Nas restantes páginas, a artista aborda os desafios que viveu no início, mas também no pico da carreira. “Mesmo ao fim de todos estes anos, há insultos que me magoam e nos quais ainda não consigo acreditar.”

Apesar do seu estrondoso sucesso, que inclui 150 milhões de discos vendidos, nove Globos de Ouro, quatro Emmys e dois Óscares, Streisand confessa que olha para trás com poucos sorrisos. “Quero é viver a vida. Quero entrar no carro do meu marido e ir passear, sobretudo com os meus filhos por perto. Não me diverti muito durante a minha vida, para ser honesta. Quero divertir-me mais.”

Um dos momentos mais marcantes — e que é discutido no livro — é a morte do seu pai devido a uma hemorragia cerebral. A artista tinha então apenas 15 meses. A morte deixou a família numa situação de pobreza e o novo marido da sua mãe, um vendedor de carros usados, não veio ajudar. “Era distante e cruel”, revela. “Não me lembro de ele falar comigo ou fazer-me perguntas. Ele nunca me reconheceu, nem a minha mãe. Não viam a minha paixão em ser atriz. Ela chegou mesmo a desencorajar-me”, escreveu.

Acabou por sair de casa aos 16 anos e arranjou um emprego como escriturária enquanto trabalhava aos fins de semana como staff num teatro para poder acompanhar os últimos espetáculos da Broadway. “Recebia quatro euros. Tentei sempre esconder o meu rosto porque pensava que um dia seria conhecida”, disse ela. “Não é engraçado? Não queria que as pessoas me reconhecessem no ecrã e se lembrassem que um dia fui eu que as levei até aos seus assentos.”

O sonho começou a tornar-se realidade em 1960, quando participou num concurso de talentos com um prémio de 50 euros e um jantar. Naquela noite, a namorada do comediante Tiger Haynes disse-lhe: “Menina, vejo em ti símbolos de dólar por todo o lado.” Mas mesmo já na rota do sucesso, houve sempre pequenas questões que se revelaram incómodas. Amado por uns, criticado por outros, mas sem nunca passar despercebido: o seu nariz foi alvo de todos os comentários.

“Às vezes, parecia que o meu nariz recebia mais atenção do que eu. Na história de capa da revista ‘Time’, o autor disse ‘este nariz é um santuário.’ Soa bem. Mas depois continuou: ‘O rosto que ele divide é longo e triste e o olhar em repouso é a essência de um cão de caça.’ Isso já não soa nada bem. Então, afinal, o que é que sou? Uma rainha da Babilónia ou um Basset Hound? Gostava de dizer que isso não me afetou, mas afetou.”

Chegou a ponderar fazer uma intervenção cirúrgica, mas nunca avançou. “Já me tinham dito várias pessoas que eu deveria fazer uma rinoplastia e arranjar os dentes. Pensei: o meu talento não é suficiente? Uma rinoplastia é cara e dolorosa. E além disso, como poderia confiar em alguém para fazer exatamente o que eu queria? Sempre gostei do relevo no meu nariz, mas mesmo um pequeno ajuste era um risco demasiado grande. Além disso, sempre gostei de narizes compridos. A atriz italiana Silvana Mangano tinha um e todos pareciam achar que ela era muito bonita.”

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