As luzes diminuíram gradualmente de intensidade e ouviram-se logo os gritos dos fãs — muitos deles esperaram o dia inteiro nas grades pelo concerto. Abriram-se as cortinas transmitidas nas telas gigantes e quando os Pearl Jam finalmente subiram ao palco do NOS Alive este sábado, 13 de julho, foi realmente a loucura.
Bastaram os primeiros acordes de “Daughter” para vermos que o lendário grupo estava prestes a dar um dos melhores espetáculos do ano.
Infelizmente, devido à acústica típica do Passeio Marítimo de Algés e à qualidade do som, quem estava cá atrás tinha dificuldade em perceber as letras, algo que não aconteceu noutros espetáculos desta edição. Isto, contudo, não foi desculpa para que os fãs parassem de dançar e cantar tudo o que já têm (bem) decorado.
Com o decorrer do concerto este problema foi melhorando e a voz incontornável de Eddie Vedder começou a arrepiar todos os presentes, independentemente de onde estivessem no recinto que estava cheio como nunca antes nesta edição do festival.
A primeira interação do vocalista com o público demorou, mas finalmente chegou após “Throw Your Arms Around Me”. “Boa noite. Olá a todos”, disse em português. O resto do discurso, contudo, foi incompreensível, apesar de estar a ler de uma folha — nós percebemos, Eddie, português é um idioma difícil. Entendemos, contudo, que fez um brinde ao público português e à “última noite deste lindo festival”. “Saúde.”
Está não foi a única vez que falou em português. “A vossa língua é muito fixe, mas quando falo soa a merda. Desculpa.” Toda a gente o aplaudiu, claro.
Tocou, pouco depois, “Upper Hand”, onde a sua voz singular foi acompanhada por alguns riffs de guitarra que tornavam difícil escolher em quem nos queríamos focar.
Com a sua típica voz tremida, agradeceu depois aos fãs. Na verdade, são os Pearl Jam que merecem um agradecimento. Eddie Vedder contou durante um espetáculo em Barcelona que os membros tiveram uma doença que os deixou “a temer pela vida” e tiveram de cancelar vários espetáculos, algo que o vocalista disse, agora já em Portugal, que os deixa “completamente devastados”. Posto isto, é de louvar o espetáculo que deram.
A interpretação de “Jeremy”, tema que se seguiu, foi apenas um de muitos momentos eletrizantes da noite. Neste caso, pediu aos membros da plateia para saltarem — e claro que todos obedeceram.
Outro instante do concerto que merece uma menção é a apresentação de “Wishlist”. No ecrã liam-se dedicatórias aos fãs portugueses. Fiona, por exemplo, recebeu os parabéns da banda.
Também houve alguns momentos hilariantes ao longo das mais de duas horas de concerto. A certa altura, Eddie perdeu-se na ordem da setlist e não sabia qual é que tinha de tocar a seguir. Foi aqui que percebemos que, muito provavelmente, estava a começar a sentir o efeito do vinho que bebeu no início do espetáculo.
Apesar destes pequenos contratempos, o músico norte-americano foi impecável do início ao fim. No entanto, os louros não podem ir apenas para o vocalista, até porque uma banda não se faz com um homem só.
Na verdade, em alguns dos outros pontos altos do espetáculo, Vedder não era o protagonista, mas sim Mike McCready com o seu talento na guitarra (chegou mesmo a tocá-la enquanto a segurava atrás da cabeça). Todo o seu domínio deste instrumento foi apresentado em temas como “Upper Hand” e “Porch”.
Ao vermos a dimensão da multidão, podemos dizer com toda a certeza que Portugal adora os Pearl Jam — até o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, estava no meio do público. Felizmente, este sentimento de fascínio e paixão é mútuo.
Durante o espetáculo, Eddie pegou num cachecol de Portugal e prendeu o no bolso de trás. No último espetáculo que deu no NOS Alive, em 2018, correu pelo palco com a nossa bandeira
“Das praias da Ericeira a Cascais, só temos experiências boas aqui e sentimo-nos grato todas as vezes. Digo-o do fundo do coração”
Se achávamos que a noite não poderia ser melhor, eis que surge o melhor momento desta edição do NOS Alive: um cover acústico de “Imagine” de John Lennon. Antes de passar ao tema, contudo, o vocalista de 59 anos fala sobre as eleições nos EUA e diz que chegou a altura do público norte-americano se livrar do cancro e de se começar a curar. Quando finalmente começou a cantar, a multidão ficou iluminada pelas luzes das lanternas dos telemóveis.
O final do espetáculo levou-nos aos dois extremos das emoções. Tal como em qualquer relacionamento (claro que aquele entre os Pearl Jam e os fãs não é diferente), chorámos e, depois, sentimos uma enorme felicidade e vontade de celebrar.
Esta viagem foi possível graças aos últimos temas apresentados: “Black”, “Do The Evolution”, “Alive” e “Rockin In a Free World” (um cover de Neil Young). Pelo meio houve muitos solos de guitarra embriagantes.
Mesmo na reta final, o vocalista também apresentou os outros elementos da banda e revelou que “Boom” Gaspar, um dos membros, tem origens portuguesas.
Em tom de festa e euforia, o palco principal desta edição do NOS Alive acabou com “Yellow Ledbetter” e, sem dúvida alguma, com o melhor espetáculo deste ano no festival.
Carregue na galeria e veja algumas fotografias da apresentação dos Pearl Jam no festival.

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