É uma imagem recorrente nas comédias românticas. Entre reuniões e pausas para café, vemos a protagonista a correr de um lado para o outro, normalmente em Nova Iorque, com os sapatos de salto alto na mão. A rotina da designer Alanna Fusaro não era muito diferente: “Trocava os pares por baixo da secretária e não era ideal. Os meus pés estavam a dar cabo de mim”, conta à NiT.

A necessidade de encontrar uma solução deu origem à marca Vice Versa, que se estreou no mercado em 2021. Desde então, tem vindo a ganhar uma enorme atenção nas redes sociais devido ao conceito original. Cada modelo inclui um salto que se dobra e transforma num sapato raso — ou vice-versa, claro.

Atualmente, os vídeos onde a fundadora norte-americana, de 26 anos, mostra como funciona o sistema já acumulam milhões de visualizações. A criação funcional acaba por ser não só uma solução para os dias de trabalho, mas também para a época de festas, onde há sempre danças (e muitas horas em pé) após a cerimónia.

“Muitas vezes, dava por mim a olhar para o meu armário enquanto me preparava para uma ocasião especial e a imaginar saltos dobráveis. Lembro-me perfeitamente de procurar um produto do género no Google e fiquei chocada quando não encontrei nada”, acrescenta.

Convicta que tinha uma ideia vencedora, aproveitou a sua experiência na área do design industrial para avançar. A jovem passou um semestre em Florença, Itália, a estagiar com a Gucci, em 2013, e depois passou para a criação de joias na Macy’s. Antes de se despedir, para se dedicar à marca própria, estava a desenvolver produtos em 3D na Bath&Body Works.

“Pensei: “Será que isto é assim tão difícil? Acabou por ser muito difícil”, recorda. O negócio atravessa a linha entre moda e engenharia. Para aperfeiçoar a tecnologia de dobragem do calcanhar foram necessários mais de três anos e dezenas de protótipos.

Afinal, como é que funciona?

Quando abrir a cobertura da sola, vai encontrar o principal mecanismo: um botão de pressão sempre localizado no interior. Após premido, o salto agulha passa através de um pequeno orifício, e pode ser dobrado para dentro. No final, só precisa de fixar a base de borracha sobre o calcanhar para fechar.

Se tiver o objetivo contrário, o processo não é muito diferente. Basta puxar o calcanhar para fora do sapato, com a mesma técnica, e fixar a peça de cobertura à sola, “para que o salto esteja fixo de forma firme e estruturada no lugar em que é suposto.”

“É muito intuitivo. Há um momento em que se aprende a fazê-lo através das instruções, mas depois tornamo-nos especialistas para sempre”. Alanna Fusaro acrescenta: “Só temos mesmo de saber onde está escondido o botão.”

Como o salto é muito fino, e suporta tanto peso corporal, foram precisas inúmeras interações à base de tentativa e erro. O processo de invenção começa pela modelação através de softwares próprios e seguem-se as impressões em 3D da concepção. Por fim, contaram com o auxílio de engenheiros da aeroespecial Boeing, que realizaram os testes de qualidade mecânica do mecanismo: “No final, trouxemos mais especialistas para verificar o nosso trabalho e garantir que era seguro.”

Feitos à mão em Espanha, com materiais de várias partes do mundo, todos os modelos são desenhados pessoalmente por Alanna. Os pares são fabricados com pele de napa macia, mas o salto é sempre feito de um alumínio leve “e resistente à corrosão para ajudar a evitar o desgaste.”

“Ainda estamos a tentar encontrar o nosso ponto de vista. Inicialmente, desenhava sapatos que queria ter no armário, mas estamos mais sofisticados. Agora, são mais básicos femininos, estilos que podem ser combinados com qualquer coisa. Mas também temos propostas mais marcantes.”

Agora, a marca quer continuar a expandir os essenciais — para usar no trabalho ou num evento — e expandir-se para mais setores e estilos. “Queremos ser especialistas em calçado para todas as necessidades”, conclui, reforçando o desejo de estar presentes em lojas físicas espalhadas pelo mundo.

Todos os sapatos da Vice Versa estão disponíveis no site da marca, com valores entre os 260€ e os 400€. Desde janeiro deste ano que podem ser encomendados diretamente para Portugal, onde esta tendência começa a ganhar dimensão.

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