Desde muito cedo, ouvimos o ditado “quem corre por gosto não cansa”, mas nem sempre entendemos o seu significado. Um exemplo que ilustra bem essa frase é a história de Frederico Felicíssimo, um jovem de Paço de Arcos que transformou uma garagem com mais de 10 mil livros numa livraria online.
Até meados de março, Frederico vendia os seus livros apenas através do seu site. Após contar a sua história à New in Oeiras, o projeto ganhou ainda mais visibilidade, recebendo mais de mil doações de livros de pessoas que tomaram conhecimento do seu empreendimento. Contudo, ficou rapidamente sem espaço para receber novos volumes.
“A garagem estava a ficar muito cheia, já não tinha como receber mais livros, por não ter espaço onde os colocar, e não queria parar com o projeto”, afirma.
Determinado a concretizar o seu sonho de ter uma livraria física, Frederico procurou espaços na zona de Oeiras. Após alguma pesquisa, acabou por encontrar o local ideal em Algés, próximo aos correios, o que facilitaria a gestão das encomendas online.
Com a capacidade da garagem a chegar ao seu limite aliada à vontade, de sempre, em ter uma livraria física onde pudesse receber pessoas, Frederico começou a procurar espaços na zona de Oeiras “Não queria sair daqui e cheguei a ver cerca de 70 anúncios. Visitei dois espaços e fiquei fascinado com o terceiro. Cumpria os critérios que tinha definido, um deles era que fosse grande para ter a loja e o armazém no mesmo sítio”, confessa.
A localização da Ecolivros, que abriu há duas semanas, em Algés, tem ainda outra vantagem. “Fica mesmo ao lado dos correios, o que é perfeito para despachar as encomendas que chegam através do site. Quase não me tenho de deslocar”, conta, com um sorriso.
Transportar mais de 10 mil livros para o novo espaço, em menos de um mês não foi tarefa fácil, mas Fred só precisou de um dia para a mudança. “Como era algo que queria mesmo fazer, e estava muito entusiasmado, consegui levar tudo num dia. Numa carrinha de caixa aberta, com a ajuda de amigos, levei cerca de 300 sacos de compras grandes de um lado para o outro. Foi difícil, mas valeu a pena”, afirma.
Com o sonho a tornar-se real, Fred decidiu decorar o espaço a seu gosto, partindo da premissa da livraria. “Queria um sítio verde, com objetos que me definem, como aquela guitarra elétrica que estava no meu quarto ou esta poltrona vintage que comprei em segunda mão. Das peças que mais gosto é aquela (aponta para um baú preto antigo), foi um senhor que leu o vosso artigo e ofereceu-me, estava carregado de livro”, diz.
Agora, com a Ecolivros em funcionamento, o empreendedor decidiu manter a venda online, mas com a particularidade de os volumes expostos na livraria não estarem disponíveis no site. “A única diferença é que as pessoas podem vir ao espaço e, como quero dar algum benefício a quem me visita, decidi que os livros que estão aqui não vão à venda na loja online”, conta
Além disso, estabeleceu um preço fixo para todas as obras, independentemente das suas características, tornando o projeto acessível a todos. “Decidi que todos os meus livros vão custar apenas 5€, seja qual for o autor, obra ou relevância. E os livros de bolso custam apenas 4€.”
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“Este livro, por exemplo, [diz, enquanto o manuseia e folheia], poderia facilmente ser vendido por 40€. Foi oferecido pelo filho do conhecido escultor Hélder Batista, muito conhecido aqui em Oeiras. Estava a desfazer-se de livros do pai, leu o artigo e decidiu oferecê-lo. No entanto, não faz sentido para mim vender a esse preço; o meu desejo é que todos tenham acesso à cultura sem necessidade de gastar muito dinheiro”, salienta.
Outra novidade da livraria é a secção dedicada ao género mistério, composta por vários títulos escolhidos por Fred, que serão embalados e vendidos “às cegas” — os clientes compram sem saber que livro que estão a adquirir.
O sonho do jovem que começou numa garagem em Paço de Arcos, concretizou-se, e a Ecolivros está aberta de segunda a sexta-feira, das 10 às 19 horas e sábados das 10 às 13h30. “Sinto-me muito satisfeito, não apenas por realizar um sonho, mas também pela alegria de receber e conhecer pessoas e as suas histórias. Se o meu objetivo fosse o lucro, ficaria numa garagem a vender online”, confessa.
A sua paixão pelo universo dos livros despontou em 2020, durante a pandemia da Covid-19, quando Frederico Felicíssimo percebeu que não se sentia realizado na sua carreira na área tecnológica, para a qual se formou. Decidiu, então, mudar de trajetória e dar início ao que se tornaria o projeto mais inesperado da sua vida. O jovem, que concluiu a sua formação em programação e tecnologias de gestão de sistemas operativos em 2019, acabou por abrir uma livraria — distinta dos modelos convencionais.
Assim nasceu o projeto Ecolivros. “Numa primeira fase, queria ter uma livraria online para vender livros em segunda mão, que se distinguisse das restantes por ser mais económica”, como contou à NiO.
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