É num atelier caseiro, em Linda-a-Velha, que Stéphanie Branco, 43 anos, dá vida às peças da marca que fundou há cerca de dois anos. A ASA Leather Work dedica-se a criar produtos em couro que resultam do processo de upcycling, ou seja, que é reutilizado, vindo de stocks inativos em fábricas. O projeto tem vindo a crescer aos poucos, mas em abril ganhou realmente asas para viajar até Itália.
Arquiteta de formação, Stéphanie tem nas linhas geométricas o fio condutor de todo o seu trabalho. São também elas que melhor caracterizam a mais recente criação da marca, uma mochila a que deu o nome de “SwitchBag”. Foi esta peça que levou à Design Week de Milão, no âmbito de um projeto financiado pela União Europeia.
“Resultou de um concurso europeu que escolhe empreendedores com produtos inovadores e sustentáveis. Fui selecionada e levei a minha peça à exposição, que abrangia várias áreas, não era só moda”, conta à New in Oeiras.
Esta mochila é, atualmente, a grande imagem de marca da ASA Leather Work e um enorme orgulho para a artesã. “A mochila é inteiramente costurada à mão, é tudo feito por mim. São muitas horas de trabalho, demora cerca de duas semanas a ser feita”, garante Stéphanie.
Aliás, esta peça é muito mais que uma mera mochila. “É também um escritório, uma casa móvel, um organizador, um objeto decorativo. Andamos sempre com a casa às costas e esta mala permite que isso seja feito, com organização”, refere Stéphanie. “Numa era de nomadismo e mobilidade, as nossas casas e escritórios não têm limites. Podem e precisam de ser transportados para todo o lado rapidamente e de forma organizada e estética. A ‘SwitchBag’ surge para colmatar essa necessidade presente nas vidas de muitos de nós”, defende.
A mochila dispõe de vários compartimentos interiores, devidamente organizados e com cores distintas, para poder, precisamente, servir para várias funções. “Gosto muito do contraste das cores”, revela a criadora, “e isso facilita a organização, cada caixinha serve para colocar diferentes itens”, refere a empreendedora. “Com diferentes geometrias e cores inspiradas na área de arquitetura e nas pinturas de Mondrian, os compartimentos interiores permitem organizar os objetos por categorias e encontrá-los de forma rápida”.
A ideia surgiu durante a pandemia. “Muito se fala hoje sobre saúde mental. E decidi criar uma mala com um visual minimalista, clean, porque muitas vezes também é assim que nos mostramos ao mundo, quando por dentro há muito mais. Aqui também só vão descobrir os vários mundos interiores que existem, abrindo a mala”, desafia a artesã.
A “SwitchBag” é produzida à mão “com uma técnica designada por ‘costura celeiro’, que está em vias de desaparecer em Portugal, utilizada, por exemplo, pela Hermès. É urgente mantermos vivo o espírito do saber-fazer e criarmos uma verdadeira valorização do artesanato contemporâneo e de autor em Portugal”, sublinha Stéphanie.
No sentido de atrair jovens para esta profissão e auxiliar pequenas marcas a iniciarem os seus negócios, a artesã promove workshops regularmente, nos quais é possível conhecer as diversas técnicas utilizadas no atelier, e também fabrica protótipos para marcas emergentes.
O preço da mochila é dado apenas por encomenda, “porque pode variar, consoante o pedido, as peças podem ser personalizadas”, explica Stéphanie. Neste caso, pode entrar em contacto com a marca através do Instagram ou do site. Foi com esta peça que esteve, também, recentemente na Bienal de Artes e Ofícios.
Neste momento, o trabalho de Stépahnie está muito virado para as malas — além da “SwitchBag”, tem muitos outros modelos disponíveis — e acessórios de moda, mas num futuro próximo quer também começar a criar objetivos de decoração.
Como surgiu a marca
Stéphanie Branco procura diariamente conectar, através das suas criações, o trabalho ancestral do couro e o mundo do século XXI. Na verdade, desde pequena que está familiarizada com várias técnicas e materiais que utiliza neste oficio, já que vem de uma família de mulheres costureiras, homens sapateiros “e pai com mãos de ouro”, revela.
“A ASA Leather Work é também uma homenagem ao meu bisavô sapateiro, Luís Esperança. Porque ‘asa’ significa esperança, em malaio, sendo igualmente uma palavra com múltiplos sentidos e fácil de pronunciar”, conta a fundadora.
Mas para percebermos como tudo começou, temos que viajar até Paris, em 2010, onde trabalhava como arquiteta. Foi lá que fabricou o seu primeiro par de sapatos inteiramente à mão. Tinha nascido o “bichinho” do artesanato. Em 2016, regressou a Portugal para trabalhar na indústria do calçado e tornou-se production manager de várias marcas nacionais e internacionais.
Mais tarde, de forma autodidata, fez uma carteira para um amigo e malas para si própria e as encomendas começaram a surgir. “Nasceu uma verdadeira paixão e a sensação terapêutica de trabalhar com as mãos foi fantástica”, afirma, decidindo então, há pouco mais de dois anos, lançar oficialmente a ASA, que tem hoje um vasto leque de artigos em couro, feitos por medida, em edições exclusivas e limitadas. Pode conhecê-los no site.
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