Em 1958, João José Nicolau Alves dos Santos fundou a retrosaria, a que deu o nome de “Casa João”. O jovem, que trabalhava desde os 12 anos numa loja de fazendas, decidiu contrair um empréstimo de 15 contos (o correspondente, na época, a 74€), para abrir o tão desejado negócio próprio. Escolheu o centro histórico de Paço de Arcos, um sítio com algum movimento ligado ao comércio de rua.
Na época com 32 anos, e casado com Maria Helena Santos, repartia a vida entre Paço de Arcos e o Cacém, local onde viviam, até se mudarem definitivamente para o concelho de Oeiras. Depois de João faleceu, foi Maria Helena a cuidar do negócio.
Hoje, com 81 anos, ainda é ela que está “à frente” da loja, situada no número 13 da Rua Costa Pinto — atualmente considerada a mais antiga da zona, numa altura em que poucos são os espaços de comércio tradicional que sobreviveram.
“Era o sonho do meu marido ter uma retrosaria dele. Ao início foi complicado, mas com a ajuda dos amigos fornecedores que tinha, conseguiu compor a casa’”, conta Maria Helena à New in Oeiras.
A retrosaria é uma casa especializada em produtos como lãs, tecidos, botões, camisolas, linhas e fios. Os trabalhos manuais e de costura são também serviços comuns em lojas como esta, que acabam por satisfazer as necessidades dos clientes que precisam de reparos, remendos ou até bordados. O espaço faz ainda a reparação e afinação de máquinas de costura de qualquer marca.
Maria de Fátima, filha do casal, trabalhava com seguros, mas, depois do falecimento do pai, decidiu apoiar a mãe na loja e não deixar cair por terra o sonho de João. “Já só estamos aqui porque a minha mãe precisa da loja para viver. Enquanto der, queremos manter vivo o sonho do meu pai”, diz.
Com mais de 65 anos, a Casa João enfrenta dificuldades em manter-se aberta. Apesar de ser um dos poucos espaços de comércio tradicional de Paço de Arcos, é cada vez mais difícil manter-se ao nível das grandes cadeias.
Com a expansão dos centros comerciais e com a facilidade que os clientes têm, atualmente, de comprar qualquer produto em poucos minutos online, por exemplo, lojas como retrosarias, mercearias, sapateiros ou drogarias tradicionais enfrentam tempos difíceis.

“Estamos a enfrentar outro período complicado, com o facto de as pessoas comprarem tudo facilmente online ou nos shoppings. Deixar de aparecer gente nova na loja”, conta-nos Maria de Fátima.
O espaço vai contando com os clientes habituais e só atrai novos rostos quando estes procuraram produtos mais específicos e com qualidade. “Temos clientes que já vêm cá há muitos anos, mas também aparecem pessoas de vários sítios que passam por cá por recomendação e porque sabem que os nossos produtos tem qualidade”, garante.
A qualidade dos tecidos e dos produtos que vendem é, segundo a proprietária, aquilo que distingue a Casa João das demais e que garante a sua permanência.
“Só vendemos produtos nacionais, são todos fabricados no norte do País e acho que é isso que faz a diferença para quem ainda compra na nossa retrosaria”, confessa Maria Helena.
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