Abriu em 1979, na Rua Marquês de Pombal em pleno centro histórico de Oeiras, uma pequena loja dedicada às lãs, chamada Fan-Fan. Provavelmente não reconhece este nome, pois ao longo dos anos, entre os clientes oeirenses, o espaço era conhecido como “ir à dona Júlia”. Júlia era uma das funcionárias da proprietária original, que acabou por se tornar na grande figura da casa e ficar à frente do negócio. Foi em sua homenagem que, em 2016, a responsável da altura, Adélia, mudou oficialmente o nome.
Lãs da Júlia faz parte da história do comércio local. Hoje, com 44 anos, a loja está mais jovem que nunca. A prova é que arranjou uma nova casa, sem sair da zona onde nasceu. A 7 de fevereiro reabriu ao público no número 7 da Rua Mestre de Aviz (mesmo em frente ao Teatro Municipal Eunice Muñoz). Com um ambiente mais arejado, leve e moderno, onde não falta luz natural e espaço para receber os clientes, este foi apenas o primeiro passo de uma nova vida que a espera.
Quem nos garante isso mesmo é Carina Barnabé, a atual responsável pelo espaço, que explica o motivo da mudança. “A dona Adélia, que estava à frente do negócio, teve um convite para um projeto no concelho onde nasceu e, como sou amiga da família, convidaram-me para ficar com a loja, porque já tinha experiência na área. A transição aconteceu em novembro e, durante dois meses, ainda estive na antiga morada, mas infelizmente comecei a perceber que o edifício estava num estado avançado de degradação e não havia grande iniciativa de recuperação de quem de direito. Então decidi sair. Felizmente, encontrei este espaço vago, parecia que estava à minha espera”.
A especialidade da loja, desde a sua criação, são os fios para vários tipos de técnicas, como tricot, crochet, macramé, costura e bordado. “O ponto forte sempre foram as lãs, os fios e toda a variedade de composições que existem. Temos por exemplo fios orgânicos, com 100 por cento fibra natural, e até fios feitos com aproveitamento de plástico dos oceanos. Servem para as mais variadas aplicações, como confeção de roupa e acessórios como cachecóis, gorros, chapéus, etc. Também há fios para fazer peças de decoração de casa, como almofadas e tapetes”, conta Carina.
Apesar de a imagem de marca serem as lãs, a procura por artigos de retrosaria fez com que a loja alargasse a oferta de produtos. “Quem estava à frente da loja acabou por ter sempre disponibilidade para ir arranjando o que as pessoas precisavam. Sempre houve essa ideia de ‘vou ali à Júlia porque de certeza que lá há’, e se não houvesse arranjava-se maneira de ter. E, por isso, muitas pessoas viam o espaço como uma retrosaria. Ainda temos muitos artigos de retrosaria, como elásticos, fitas, botões, rendas, agulhas, porque somos procurados para esse efeito. Mas a verdade é que vou reduzindo o stock, porque são artigos que são cada vez menos procurados. Mas tudo o que sejam complementos à costura e às lãs continuamos a ter”, conclui a responsável.

Vêm aí workshops de técnicas tradicionais que atraem pessoas de todas as idades
Carina percebeu, desde logo, que esta nova loja tinha todo o potencial para pôr os seus planos em prática. “A antiga loja era muito pequena, não dava para receber pessoas que queriam aprender, trabalhar, não tinha espaço útil. E eu queria um sítio onde conseguisse, além da parte comercial, ter a possibilidade de receber pessoas para encontros, para fazer workshops e ateliers. A intenção de vir para aqui teve também a ver com isso”.
A responsável sente que há atualmente um grande interesse na área de artesanato e em aprender técnicas manuais. “Na minha perspectiva de negócio e pela minha experiência, esta é uma área que cada vez mais as pessoas procuram, querem aprender, nem que seja como um passatempo, uma atividade que complementa a rotina do dia a dia. Ainda se nota mais depois da pandemia. As artes manuais são um meio de descompressão, é quase terapêutico“, refere.
Por isso, o objetivo de Carina é desenvolver workshops de diferentes técnicas como tricot, crochet, macramé, costura criativa ou até bordado em fotografias. “As pessoas procuram aconselhamento. Os ateliers e workshops vão ajudar nisso”, refere Carina. “Vou querer também iniciar um clube, a possibilidade de ter dias e horas específicos em que as pessoas podem vir tirar dúvidas e apoiarem-se umas às outras. Queremos criar uma comunidade”, conclui.
“Lãs da Júlia é para pessoas dos 8 aos 80 e mais. Temos uma cliente com 87 anos e outra com 93”, conta Carina. Mas se pensa que este tipo de artesanato se destina apenas a pessoas com mais idade, está enganado. A verdade é que esta arte está, cada vez mais, a atrair pessoas de diferentes faixas etárias. “Já se ultrapassou aquela ideia de que são atividades apenas das avós a fazerem peças para os netos. Há cada vez mais gente nova a querer aprender e, principalmente, a recuperar essas tradições. E eu também quero chegar a essa geração mais nova”, sublinha.
Para isso, a responsável considera essencial criar uma loja online. “Este é um negócio local e de porta aberta, mas acho importante ter também uma presença online, um complemento para as pessoas poderem ver o que temos à disposição. Claro que o toque, sentir a textura e ver a cor ao vivo é diferente. Vir à loja é fundamental, mas estar online também é importante. Até para ir partilhando as novidades. Quero melhorar a comunicação da loja com o público”.
Além de se mudar para um novo espaço, Carina fez também um refresh no logotipo, que acaba por ser mais uma homenagem à história da loja. “Incluí um gato, porque na altura da dona Júlia, ela tinha vários gatinhos na loja. Os clientes mais antigos ainda se lembram. Tornei a imagem mais moderna e fiz questão de incluir a data em que foi criada”. São passos dados para futuro, sempre com orgulho no passado.
Por enquanto, pode seguir as Lãs da Júlia no Facebook e Instagram ou ir visitar o novo espaço. Será bem recebido por Carina Barnabé que atende os clientes como velhos amigos, seja os que lá vão diariamente ou os novos, esperando que se tornem também companheiros nesta caminhada. “Isto é uma paixão minha e queria que as pessoas sentissem esse entusiasmo”, refere.
Carregue na galeria para ficar a conhecer o novo espaço e alguma da oferta da Lãs da Júlia.