comida

Novo spot em Linda-a-Velha só serve cachupa. Cada dose custa 9€

O Cachupa à Margem abriu em julho, apenas com serviço de take away. O chef cabo-verdiano Ademiro Almeida faz este prato há 50 anos.
Uma receita típica de Cabo Verde.

Nada é mais eficaz para viajar, sem sair do mesmo sítio, do que um prato típico confeccionado a preceito. Nesse caso, para ir até Cabo Verde, aconselhamo-lo a provar aquela que é uma das receitas mais tradicionais do país africano: a cachupa. Caso queira experimentar pela primeira vez ou matar saudades do sabor, há um novo espaço no concelho de Oeiras onde pode fazê-lo. 

O Cachupa à Margem abriu a 9 de julho, em Linda-a-Velha. Não se trata de um restaurante, mas sim de um espaço exclusivo de take away. Quanto ao menu, não será difícil a escolha. O prato que dá nome ao espaço é a única opção servida.

A especialidade tem por base milho e diferentes tipos de feijão, aos quais se juntam carne, enchidos, couve, cenoura, batata doce, mandioca e outros ingredientes. Na verdade, há várias formas de cozinhar este prato, já que cada família, cada cozinheiro tem a sua receita, ainda que sejam todas semelhantes. É uma herança gastronómica que vai passando entre gerações — e foi precisamente assim que Ademiro Almeida aprendeu a fazê-la.

O cabo-verdiano, natural de São Vicente, hoje com 68 anos, tinha apenas 18 quando veio viver para Portugal, altura em que se apaixonou pela cozinha. “Aprendi em casa do meu pai, ele gostava muito de fazer jantaradas com música. A mulher dele, minha madrasta, era também muito boa cozinheira. Sempre tive o gosto de ajudar na cozinha. E, claro, fui espreitando e fui aprendendo a fazer vários pratos”, conta à NiO.

O pai de Ademiro, o famoso músico cabo-verdiano Bana, abriu em Lisboa aquele que se tornou o primeiro restaurante a trazer a cultura e gastronomia de Cabo Verde para Lisboa. O Monte Cara esteve em funcionamento de 1975 até ao início dos anos 90. Foi ali que Ademiro fez a sua primeira cachupa.

Ao longo do tempo foi aperfeiçoando a técnica e hoje, 50 anos depois, considera-se um grande especialista neste prato. “Brinco, muitas veze,s a dizer que não deve haver ninguém, mesmo em Cabo Verde, que já tenha feito tanta cachupa como eu. São muitos anos”, refere.

Alguns dos foram quais passados a fazer cachupa na Casa da Morna, em Lisboa, espaço que abriu juntamente com Tito Paris e Miguel Anacoreta. Esteve ligado ao ao famoso restaurante de Alcântara, espaço onde se destacam os sabores e a cultura cabo-verdiana, entre 2002 a 2010. 

Ademiro Almeida é o chef responsável.

Entretanto, trabalhou em outros sítios, até receber a proposta de Pedro Vaz e Tiago Gamboa, responsáveis pelo restaurante À Margem, em Belém. “Já conheço o Tiago e o Pedro há muitos anos, eram nossos clientes. Explicaram-me o projeto e apaixonei-me pela ideia. Decidi agarrar a oportunidade e caminhar com eles neste projeto, que acredito ter pernas para andar”, afirma Ademiro.

Apesar de ter sido lançado agora, o conceito está a ser aprimorado desde 2021. “Eu e o Pedro somos sócios há muitos anos. Já éramos amigos de infância e estamos ligados à área da restauração há muito tempo. No entanto, andávamos a pensar em algo que pudéssemos multiplicar, sem ser um restaurante, com custos baixos, mas com qualidade. Numa ida a Santarém, percebi que muitas pessoas saem ao fim de semana apenas para comprar sopa da pedra. E, durante a pandemia, surgiu-nos a ideia de criar um projeto neste moldes, ligado à cachupa”, conta Tiago à NiO. 

“Como já tínhamos muita experiência em restauração, sabíamos que queríamos algo focado na qualidade e, principalmente, com um produto só. Nem águas vamos vender. A ideia nasce logo com foco na cachupa. Conhecemos o Ademiro há muitos anos, comemos cachupa há mais de 30 anos e, para nós, esta é a melhor do País, reconhecida por muita gente”, sublinha o responsável.

À New in Oeiras, Ademiro revela quais os grandes segredos para uma boa cachupa, cuja preparação é um verdadeiro ritual. “Normalmente chego antes das oito horas. A primeira coisa que faço é pôr a cachupa ao lume. Já é quase meio-dia e ainda não apaguei o lume. Começo sempre cedo porque nunca ponho o lume no máximo. Vai cozendo lentamente. O segredo é colocar os ingredientes na altura própria. O milho é o primeiro a entrar, tem um tempo. Mesmo entre os feijões, os tempos são diferentes. É preciso muita paciência. Se tiver pressa, é melhor não fazer. E o segredo maior: ter bons produtos. Bons enchidos fazem a diferença, destapamos a panela e sentimos o cheiro. Não usamos produtos congelados, é tudo fresco”, revela o chef.

Feita todos os dias, a cachupa está disponível para ser levantada no local ou para receber em casa, através de encomenda pela Uber Eats, nos períodos de almoço e jantar. Uma dose individual custa 9€ e uma caixa para seis pessoas fica a 49€. Há também a possibilidade de se encomendarem quantidades maiores, para um evento de 30 ou 40 pessoas. 

“A cachupa pode fazer concorrência à fast food. Só tem vantagens: é rápida de servir e muito mais nutritiva. Pode ser comida também no dia seguinte que não perde qualidade”, nota Tiago. “É um prato muito consensual, tanto em termos de gosto, de idades ou até de classes sociais”, acrescenta Pedro. 

A escolha de Linda-a-Velha para instalar o projeto está relacionada com a centralidade da zona. Depois de muito tempo à procura do espaço ideal, foi no número 61 da Rua Eng. José Frederico Ulrich, que instalaram o projeto.

“Fomos amadurecendo a ideia ao longo do tempo e acreditamos que este é o sítio certo. Tem muito movimento e é uma zona onde as pessoas têm o hábito de vir buscar comida. É bom ser aqui no concelho de Oeiras também porque fica perto do nosso escritório e armazém e do restaurante em Belém”, refere Tiago. 

Os responsáveis acreditam que o projeto pode crescer e chegar a outros locais. A ideia é que, nessa altura, seja Ademiro a formar quem estiver nas cozinhas para garantir sempre a qualidade. Por enquanto, querem tornar o Cachupa à Margem numa referência para todos os fãs do prato.

Fica quatro horas ao lume.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    R. Eng. José Frederico Ulrich 61
    2795-113 Linda-a-Velha
  • HORÁRIO
  • Quarta a segunda das 12h às 15 e das 19h às 22h
  • Encerra à terça-feira
PREÇO MÉDIO
Menos de 10€
TIPO DE COMIDA
Comidas do mundo

MAIS HISTÓRIAS DE OEIRAS

AGENDA