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No novo restaurante de Oeiras é tudo ao molho e fé na chef — e agora só queremos repetir

Visitámos o Molhanga, aberto desde início de abril, com um conceito de petiscos onde a regra é molhar tudo o que vem para a mesa.
Uma das entradas. Créditos: Rita Chantre

O aviso foi-nos feito: “Isto vai dar molho”. E foi precisamente com essa esperança que nos sentámos à mesa do mais recente restaurante de petiscos de Oeiras. Ali, a regra de boas maneiras passa por comer à mão muitas das iguarias servidas e é lei molhar o pão nos molhos que tem à frente. Aliás, neste espaço todos os pratos são servidos com molho — e há muitos para provar, com diferentes sabores, texturas, ingredientes e consistências. Seja à parte ou incluído na receita, pode estar seguro que a refeição vai dar molho e ainda bem. 

O Molhanga abriu no dia 1 de abril no número 10A da Rua Ernesto Veiga de Oliveira. Aponte a morada porque, acredite, vai querer que o GPS o guie até lá. A recebê-lo estará João Carvalho, responsável pelo espaço que, em conjunto com a mulher, Inês Campina, criou todo o conceito do restaurante. O casal oeirense confessa que esta é, na verdade, uma ideia antiga, pensada para um formato de street food. 

“No final de refeições em família, em vez da sobremesa, sempre tive vontade de me servir de um segundo prato apenas com arroz e molho da carne ou do que fosse. O molho, para mim, sempre teve uma importância fundamental em qualquer refeição. E acabei por pensar num conceito de street food, numa roulote, para servir em eventos uma taça de arroz com um molho à escolha. Pareceu-me uma ideia de negócio interessante, levei o projeto a um concurso patrocinado pelo Turismo de Portugal e acabámos por ganhar. Na altura pensámos em cinco molhos, de carne assada, de caril, de cogumelos e natas, de caldeirada de peixe, de fricassé e cabidela”, revela João. 

A base da ideia está lá, só trocaram a roulote por um espaço fixo, como conta à NiO o responsável: “Encontrámos este espaço e adorámos logo. Então decidimos avançar com o projeto aqui. Estudei na Escola de Hotelaria do Estoril e sempre trabalhei em restauração, então sempre quis ter um espaço próprio, porque adoro comer, estar à mesa com amigos, acredito que é onde as pessoas descontraem, convivem, e adoro proporcionar isso aos outros”.

Uma refeição no Molhanga merece que vá com tempo, para ir provando os petiscos e saboreando com calma todos os sabores que chegam à mesa. Com muita luz natural, o espaço é também convidativo a chegar e ficar, não só pela boa comida, mas pelo ambiente agradável. Esta parte teve mão de Inês, arquiteta de profissão, e responsável pelo design e pela decoração cuidada do restaurante.

João e Inês, o casal oeirense responsável pelo Molhanga.

“Os anteriores proprietários tinham feito obras e a disposição do espaço já estava ao nosso gosto. Quanto às cores, entre o rosa e o verde azulado, combinam com o nosso logotipo e tentámos que a loiça também estivesse em harmonia, porque todos os pormenores são importantes. Gostamos de ter uma apresentação descontraída, mas pensada”, sublinha Inês. Se olhar com atenção talvez reconheça os pratos e as taças que chegam à mesa — têm a assinatura da loja oeirense Cerâmicas na Linha. “Fazia todo o sentido conjugar a cerâmica com o nosso conceito”, conclui.

Mas antes de chegar à mesa, assim que entra no espaço vai saltar-lhe à vista a cozinha, totalmente aberta para a sala. É ali que a magia acontece, sob os comandos da chef Isabel Amorim. Do Brasil trouxe o tempero, a energia e vontade de investir numa cozinha criativa e sustentável. É a própria que nos conta que aproveita todas as partes dos alimentos, que muitas vezes as pessoas deitam fora, sejam cascas, talos ou sementes, “tudo tem uso, tudo tem proveito e sabor”.

Investe também na sazonalidade, dando prioridade a produtos da época, frescos e naturais, e vai acrescentando ideias de pratos na carta sempre que tem ingredientes para isso. Neste almoço, começou por servir uma sopa de beterraba com batata doce, acompanhada com umas folhas de alho francês, mas há dias em que a sopa pode ser de cascas, por exemplo. O ingrediente secreto para o sucesso, esse é sempre “cozinhar com afeto e respeito pela comida”, garante a chef.

“A identidade é muito importante para nós e o que a Béu, como a chamamos, trouxe foi aliar aquilo que é a nossa intenção de sabores portugueses com molhos do mundo, traz também muitas ideias novas e está em sintonia com a nossa filosofia de sustentabilidade”, conta Inês, e João remata “é uma máquina”. 

Tudo “à molhada”

Uma leitura rápida pelo menu traz muitas indecisões e poucas certezas do que provar — “será que pode vir tudo?”, pensámos. Pedimos ajuda aos responsáveis, para que nos indicassem alguns petiscos. “O ideal é experimentar um de cada grupo”, comentou Inês, “um com ovos, um de queijo, um de vegetais, um de peixe ou marisco e um de carne”. Com receio de não termos “espaço” para todos, escolhemos apenas alguns que ficam, desde já, super recomendados.

Como entrada experimentámos “Os três molhos” (4,50€), um prato com pão e gressinos, que pode molhar em tapenade de azeitona, húmus de beterraba e tzatziki, uma pasta típica da Grécia. Neste dia havia também um de azeitona e outro de cebola que só ajudaram a aguçar o apetite e a curiosidade para o que viria a seguir. Para começar pode pedir também as “lascas” (3€) de banana frita com molho de cebola roxa, que também podem ser de batata doce, alho francês, entre outras alternativas.

No passo seguinte, a mesa ficou recheada com ovos a murro (7€), ovos estrelados numa cama de batatas a murro com presunto crocante e molho de mostarda para “regar” o prato; panelinha de queijo (8,50€), um fondue de queijo de Azeitão, onde se pode molhar o pão; e pama de camarão (10€), que consiste em camarão crocante acompanhado com molho oriental. Não conseguimos escolher um favorito, mas podemos aconselhar os amantes de queijo a não deixarem passar o fondue: vão querer mergulhar nesta pequena tentação.

O bom de poder pedir vários petiscos e ter a mesa cheia de amigos para partilhá-los, é que cada um apenas experimenta o que gosta, e há para todos os gostos. “Tentamos ter uma cozinha inclusiva, para chegar a todos os gostos e mesmo a quem tem restrições. Há petiscos vegetarianos, para quem não come carne, por exemplo, e tentamos sempre ir ao encontro dos desejos dos clientes. Tivemos um que não comia cebola nem alho, e conseguimos servi-lo de forma a que saísse satisfeito”, conta João.

Dentro das opções, pode pedir também tomatada com ovo (7€); à Brás (8€), alheira com alho francês, gema panada e batata palha; cogumelos à bulhão pato (6€); chèvre no forno (7€); peixinhos da horta (7€) feitos com couve-flor e molho de abacate; lulinhas à algarvia (9€), com molho de azeite, alho, vinho branco e coentros; bolinhas de bacalhau (6€); camarão na frigideira (12€); e quem gosta de carne pode experimentar o bife da vazia trinchado (13€) ou o poco no molho (11€). 

“Nenhuma refeição termina sem uma boa sobremesa”, garante Inês. E, por isso, para finalizar a refeição peça um cheesecake com curd de maracujá (5,50€), em que o doce vem à parte para poder espalhar por cima; um crumble com panna cotta (4€) ou mochis de coco e manga (3,50€). Quanto às bebidas, pode acompanhar com vinho ou uma cerveja artesanal. À saída, já só queríamos voltar para provar as restantes iguarias do menu.

Por enquanto, esta “casa de petiscos à portuguesa, mas com um toque especial dos molhos”, como a definem, está aberta aos almoços de terça-feira a domingo, e também ao jantar às sextas e sábados. A ideia é que este horário possa ser alargado, ao fim de semana, durante os meses de verão, de forma a que as portas estejam abertas continuamente entre o almoço e jantar, para receber todos aqueles que quiserem ir petiscar a meio da tarde. “A ideia é que as pessoas possam aproveitar o bom tempo, na nossa esplanada e vir passar um bom bocado connosco. Estamos a poucos minutos da praia, e vamos ter cerveja artesanal e sangria para refrescar nos dias quentes”, garantem os responsáveis. 

Se ficou curioso e com água na boca, carregue na galeria para ver imagens do espaço e de alguns petiscos que pode ir até lá provar.

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FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    R. Ernesto Veiga de Oliveira 10A
    2780-052 Oeiras
  • HORÁRIO
  • Quarta a sábado das 17h às 23h
  • Domingo das 12h às 15h
PREÇO MÉDIO
Entre 10€ e 20€
TIPO DE COMIDA
Tapas

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