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Nema vende farturas há 40 anos nas Festas de Oeiras e encontrou o amor num carrossel

Apesar de não viver no concelho, Nema, como é conhecida pelos amigos, corre os arraiais de Oeiras, onde diz sentir-se em casa.
Vive no Barreiro, mas o seu coração pertence a Oeiras

Costuma dizer-se que a vida de feirante é dura e a história de Noémia Gonçalves confirma isso mesmo. Mas também mostra que, para quem vive o ambiente das feiras desde pequena, é difícil resistir-lhe. “Habituei-me a esta vida e por aqui fiquei”, contou à New in Oeiras. Com 61 anos, Noémia está habituada ao ritmo frenético das festas e romarias desde criança. “O meu pai era feirante, assim como a minha mãe. Vinha com eles e costumo dizer que nasci e fui criada na feira”, recorda. 

Os pais viviam no Barreiro, mas era para a feira de Oeiras que vinham vender farturas. “Apesar de o meu pai ser de Linda-a-velha, gostavam mais de vir fazer estas feiras por serem mais familiares. Todos se conheciam”. 

Apesar de os acompanhar nas romarias, Nema, como é carinhosamente conhecida entre os amigos, concluiu o 12º ano e chegou a ter planos para entrar para a faculdade. “O meu pai não queria que fosse feirante”. Durante os tempos de escola, quando chegava o verão, a jovem passava o tempo com os pais entre as Festas de Oeiras às Festas de Tires. Em setembro regressava às aulas. “Às vezes não queria voltar, eram tempos felizes com os feirantes”, recorda.

Aos 19 anos, o destino ditou o seu caminho. Entre as diferentes festas por onde passou nesse verão, Nema apaixonou-se. “Foi nas Festas de Paço de Arcos que caí de amores pelo rapaz do carrossel. Juntei-me com ele e decidimos seguir com a vida de feirante”.

Passados dois anos, Nema e José Manuel abriram a sua banca de farturas e e estrearam-se nas Festas de Oeiras, há precisamente 40 anos, onde marcam presença desde essa altura. Sem falharem um único ano. “Convenci-o a ficarmos pelas farturas, decidimos investir e começamos a trabalhar os dois, já sem a ajuda dos meus pais”. 

Hoje, com 61 anos, Nema ainda vive no Barreiro, mas confessa que o seu coração pertence a Oeiras. “Só lá vou dormir, as minhas memórias são daqui, de brincar, dos namorados que tive e de conhecer todas as pessoas que passam pela feira”, conta. 

“Se tivesse de escolher as minhas festas preferidas, seriam as de Paço de Arcos, pela minha história, e as de Laveiras, em Caxias, pelas pessoas e por sentir que somos quase uma família”. 

Nema e José têm dois filhos, o mais novo é engenheiro e a mais velha seguiu as pisadas dos pais. “Quando fui mãe percebi o que o meu pai queria dizer. Não queria que a Diana fosse feirante, mas que estudasse, só que não quis. Hoje acompanha-me em algumas feiras e na sua roulote independente noutros sítios”.  

Nema, à esquerda, e a filha Diana, à direita.

A roulote da Nema já é uma figura habitual em todas as festas e arraiais do concelho de Oeiras. Neste momento, a banca de farturas está nas Festas de Oeiras, mas, ao longo do ano, vai passando também por outros pontos, como as Festas de Paço de Arcos, as Festas do Baião, Laveiras, Linda-a-Velha e até às Azenhas do Mar, em Sintra.

Durante o inverno, Diana tem uma roulote, preparada para essa estação do ano, em Linda-a-velha e Nema vai alternando o local, estando um período em Laveiras, outro na estação de Algés. “No inverno é mais fraco, mas temos sempre pessoas a comprar. Nessa altura só fazemos as tardes, das 15 às 21 horas, e vai dando algum sustento.”, afirma. 

Se se cruzar com a banca de Nema, o difícil vai ser resistir ao cheiro. Há farturas à unidade (1,5€), meia dúzia (7,50€), churros recheados de vários sabores (3,50€), até churrinhos simples (8€ a dúzia). 

Nema gere uma “casa” com muitos anos de história e diz que o segredo do sucesso está na receita da massa, deixada pelo pai. Enquanto vai seguindo com a vida de feirante, o que fica para trás são as memórias dos tempos de festa, onde as pessoas estão alegres e a vida é boa. “As melhores memórias que tenho são nos bailaricos, com todos a dançar. As pessoas eram apaixonadas pela vida e dançavam umas com as outras.”, diz.

Carregue na galeria para ver algumas fotografias das farturas de Noémia.

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