Os sítios mais mágicos acabam sempre por ser aqueles que carregam anos de histórias que muitas das vezes desconhecemos, mas sabemos que existem. O restaurante A Parreirinha de Algés é um exemplo disso, uma vez que conta com 103 anos de vida.
O negócio veio parar às mãos de João Paulino em 2020, quando decidiu mudar de vida depois de trabalhar mais de duas décadas na área das vendas de automóveis. “Antes de fazer 40 anos, decidi que queria mudar a minha vida. Percebi que, ou era naquela altura, ou então nunca mais tinha essa oportunidade. Queria fazer algo completamente diferente e meu”, conta à New in Oeiras.
Curioso pela história da Parreirinha, o oeirense foi à procura de mais informações sobre o local e descobriu apontamentos especiais. “Quando me apercebi que era uma casa quase centenária (na altura) fiquei deslumbrado. Além disso, quando assinei a escritura e em conversa com algumas pessoas da zona concluí que, em 1922, o espaço era uma casa de pasto (restaurante) e uma carvoaria (onde se vendia o carvão)”, revela.
Como o restaurante estava um pouco degradado, João precisou de fazer algumas intervenções e tentou melhorar tanto o interior como a área envolvente. “Fiz algumas obras por dentro, mudei janelas, melhorei a zona da esplanada, elevei-a e fiz um toldo removível para proteger os clientes da chuva. Tentei tornar o espaço mais agradável, com apontamentos portugueses — na esplanada parece que estamos no Alentejo pela cor branca das paredes e as janelas rodeadas de azul”, afirma.
No entanto, a ideia sempre foi preservar a essência. “O objetivo era manter o espaço fiel às suas origens, renová-lo apenas, não queria perder a sua autenticidade. Era uma tasca portuguesa e queria que continuasse assim”, reforça.
Apesar de alguns contratempos iniciais, entre obras e acabamentos, a Parreirinha começou novamente a servir refeições, agora sob nova gerência: “Aproveitei alguma mobília que aqui estava, a louça foi comprada de raiz por mim e queria o mais simples e português possível. Talheres básicos e pratos brancos com aquela risca azul típica para as pessoas se sentirem em casa”, confessa.
O espaço tem cerca de 250 metros quadrados, é composto pela esplanada e por duas salas no interior, a sala principal e a sala do “avô”, esta última foi renovada recentemente. No total, o restaurante conta com cerca de 80 lugares sentados. “Podia sentar mais gente, mas gosto de ter as mesas espaçadas, para os clientes não se sentirem apertados e estarem à vontade”, conta.
Como o principal fator para qualquer casa se tornar numa tasca portuguesa começa na gastronomia, a ementa da Parreirinha está cheia de opções caseiras. “Servimos pratos nossos, a casa sempre foi conhecida pelo peixe. Agora servimos também carnes, mas temos os grelhados que saem muito tanto carne como peixe. Servimos bacalhau grelhado, cabidela de choco, feijoada de javali ou arroz de lingueirão, entrecosto frito com migas”, exemplifica.
Os preços dos pratos não são fixos, uma vez que João vai ao mercado todos os dias. Somos uma casa de peixe e carne frescos, compramos todos os dias e por esse motivo os preços oscilam consoante os valores das compras. A semana passada, por exemplo, uma dourada para duas pessoas ficou a 33,50€”, afirma.
“Sei que o meu espaço é especial, pela forma como a minha equipa trata os clientes, pela proximidade do serviço — é isso que priorizo aqui. Eu não tenho ementa em papel que circula pelas mesas, por exemplo, os clientes pedem a carta e eu vou à mesa com um quadro de ardósia e explico os pratos, para quebrar o gelo e para se sentirem especiais aqui. Não faço para ser diferente, mas porque sou assim e a Parreirinha é a extensão da minha essência”, confessa.
Apesar da ementa fixa com especialidades que, por norma, tem sempre, a Parreirinha de Algés aposta agora em pratos do dia semanais. “Trocamos todas as semanas e serve também como fator novidade, para nos estimular a apresentar propostas diferentes”, defende.
O restaurante, aberto de terça-feira a sábado, só serve almoços, no entanto, este pode ser reservado para jantares de grupo em qualquer dia da semana. O espaço carrega um legado que mantém viva a tradição de uma casa centenária e os grandes fatores que o distinguem dos restantes são a paixão e o entusiasmo de quem recebe por quem lá passa.
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